Passagens subterrâneas de Brasília


Lucio Costa teve um plano brilhante que, na prática, tornou-se conflitante: instalar passagens subterrâneas como forma de fazer com que o pedestre e os carros coexistissem sem que um tivesse confronto direto com o outro na travessia da via mais veloz da cidade, conhecida como Eixão.

O que você precisa saber


No total são 16 passarelas, oito em cada Asa, separadas por intervalos de 800 metros, no canto de cada superquadra com a principal função de ligar os Eixos L e W (101/201 até 115/215). Isso quer dizer que se você está, por exemplo, na 216 Norte e desejar ir andando até à 116, pode usar a passagem subterrânea.

Curiosidade: as passarelas da Asa Norte são mais recentes que as da Sul e também dispõem, além de escadas, de rampa.

Mas atenção: o acesso às passarelas não é feito em linha reta. Por estarem próximas às "tesourinhas" das pistas laterais, as passarelas tiveram seu desenho original alterado, ganhando esquinas subterrâneas. 

Esquinas essas, as únicas da cidade sem esquinas, causam receio em muitos pedestres, pois não é possível ver se há alguma surpresa desagradável escondida no corredor de 90° sem antes adentrar o local. Por essa razão, ainda é desaconselhável usar a passagem depois das 18h.


Macete: alguns pedestres, como eu, preferem atravessar um dos Eixos menores por cima (conhecidos como Eixinho), onde a velocidade e o fluxo dos carros são inferiores aos do Eixão, seguir pela passarela no espaço aberto que pode ser visto de ponta a ponta, passando por debaixo do Eixão, e subir novamente no Eixinho seguinte. 
É importante saber, ainda:

  • as passarelas da Asa Sul não são equipadas com corrimões, o que pode dificultar a o acesso por pessoas com mobilidade reduzida. 
  • as passarelas da Asa Sul localizadas nas  quadras 100 e 200 estão desencontradas dos pontos de ônibus (tradicionais, de tijolo): estes pontos foram desativados e substituídos pelos pontos com armação de vidro, em sua maioria sem travessia subterrânea do Eixo. Apenas nas quadras nas entrequadras de destinação comunitária, como Clube da Vizinhança ou Cine Clube, onde se encontram as galerias subterrâneas do metrô que, em geral, são amplas e seguras de se atravessar. Agora você sabe porque dá sinal, mas o ônibus não para!

Ainda há esperança


Desde muitos nos existe uma tentativa do governo de reformulação das passagens. Um dos projetos, apresentado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), previa a retirada dos pontos cegos dentro dos túneis, ou seja, as curvas existentes nos finais das passarelas devem, sim, desaparecer no futuro.

Uma proposta 2011 contemplou a integração dos corredores com as passagens do metrô. Nos cálculos do IAB, a integração dos corredores deve reduzir a distância atual entre as passagens de 600 metros para 410 metros.

Em 2012 foi lançado um edital para revitalização e um novo modelo de passarelas, que deveria ser mais atrativo para os pedestres, que incluísse banheiros, lojas, ciclovia integrada e outras opções de lazer. É claro que passados 4 anos, o máximo que conseguiram foi repor azulejos, pintar aqui, oferecer policiamento por certo tempo e espantar moradores de rua ali, mas o projeto bacana como este, um dos vencedores do concurso, ainda não saiu do papel:




Felizmente, a população tem se mobilizado para amenizar o estigma de se conviver com as passarelas e frequentemente organizam eventos de ocupação alternativa. Um deles é o Forró de Vitrola, que acontece periodicamente na passarela da 111/211 Norte. Além disso, as passarelas estão repletas de intervenção urbana, com obras de alguns dos principais artistas da cidade, com poemas e desenhos estampados nas paredes.



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