Esta é para meus conterrâneos que adoram reclamar de certas reivindicações no Brasil.
Na semana passada ouvi sobre a greve dos pilotos da companhia aérea alemã German Wings (leia a respeito aqui, em inglês) e esta semana eu mesma vivenciei a greve no transporte público da Deutsche Bahn, empresa responsável pela frota de trens utilizada em peso em todo o país.
E foi bem assim: confiante do sistema impecável de transporte, senti-me pega de surpresa. Mas parece que não fui a única: era notável a decepção de vários passageiros ao chegarem na estação de trem e se depararem com o aviso abaixo, o qual informa o atraso dos trens devido à greve.
Depois de uma hora de espera, resolvi pegar o ônibus, o qual é um sistema implementado há muito pouco tempo no país após briga judicial contra o monopólio da Deutsche Bahn sobre o transporte público. Até mesmo o motorista do ônibus, espantado com a quantidade de gente embarcando, perguntou a razão para uma das passageiras, a qual prontamente explicou a situação de greve (leia aqui, aqui e aqui, em alemão).
Vale dizer que considero tanto o valor das passagens da Deutsche Bahn para trens quanto dos ônibus caríssimos. Por exemplo, o percurso do ônibus de 30min, embora a distância não seja longa, mas as voltas muitas, custa € 3,70 (cerca de R$ 11,10); se fosse com o trem, € 4,90 (ou mais ou menos R$ 14,70). Tudo isso porque não há concorrência entre as empresas. Questionei a um dos alemães como pode isso acontecer em um país como a Alemanha... mesmo em Brasília, minha cidade natal, discute-se o monopólio das empresas de ônibus e a taxa de preços abusivos. Sem contar que já perdemos o número de vezes em que houve greves devido à baixa renumeração dos cobradores e motoristas ou protestos contra o transporte precário, escassez de linhas e de horários. Este alemão me respondeu que seus compatriotas são muito confortáveis. E de fato, acho que são. Tão acostumados com o funcionamento e conforto do seu sistema que não sabem mais reivindicar. Pois bem, vamos adiante ao que passei na última segunda-feira.
Fui parar na universidade de Stuttgart, onde uma colega precisava deixar umas coisas antes de partirmos para a estação principal de Stuttgart. O problema é: não havia nenhuma conexão de ônibus para a estação principal! Estávamos ilhadas, sem a opção do trem! Seguer poderíamos voltar para minha cidade para tentar outra opção por lá porque ônibus que havíamos pegado não rodaria mais, isto é, pararia às 19h. Acredite se quiser, eu fiquei pasma. Como assim a universidade não tinha acesso para os demais principais pontos da cidade? Como os estudantes e trabalhadores se deslocam no dia a dia na ausência de ônibus? Dependem do trem. E se não tem trem, em momento de greve? Ao telefone, eu reclamava com um colega sobre o absurdo daquela situação: nem no Brasil lembrava de um caos como aquele. Existe uma quota mínima a ser atendida para que os passageiros não sejam prejudicados. A greve durou cerca de três horas ou mais, enquanto os paineis das estações anunciavam atrasos e mais atrasos.
E pelo que reivindicavam os condutores da Deutsche Bahn? Um salário melhor.
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