Em terra de estrangeiro, quem fala o idioma local é rei!


Sabe aquele momento em que você trava uma conversa com um estrangeiro recém-chegado no Brasil que se dana a esboçar umas frasezinhas em português brasileiro com um sotaque pra lá de puxado, erro de conjugação entre verbo e pronome, mas mesmo assim você o elogia porque ele pelo menos está tentando falar seu idioma?

Pois é, saiba que quando pisar o pé pra fora do país vai precisar se preparar para (evitar) fazer a gringa, afinal, não é todo o mundo que tem a santa paciência do brasileiro de aguentar mímicas ou construções fraseológicas bizarras até entender o que o outro está querendo dizer, achando "nossa, que gracinha! Ele quer 'tomar a ônibus porque bebeu muito cervezzo'" (eu, particularmente, acho o fim, e corrijo mesmo).

Embora tenha divulgado na minha página de tradução um mapa dos países na Europa onde é possível se comunicar em inglês caso o viajante não saiba um dos idiomas locais (confira aqui, em inglês, sorry), considero se tratar de um macete que funcione mais ou menos, mas nem sempre: a experiência tem me mostrado até agora que a preferência é se comunicar na língua materna, ainda que seu interlocutor fale fluentemente outras línguas. Quando me encontro com o pessoal do Equador aqui na Alemanha, por exemplo, só o que rola é portunhol; enquanto isso, os alemães presentes ficam boiando até encontrar um momento oportuno para participarem também: "ah, jetzt hab' ich verstanden! 'Casa' heißt 'Haus'!" ("ah, agora entendi! 'Casa' significa 'casa' (em alemão)", sorridentes porque puderam entender algo do que tagarelávamos.

Imagem: woessner. Na situação acima, um alemão pergunta a um francês se ele por acaso fala inglês, ao que responde que sim. Então, o alemão responde que isto é muito ruim, porque ele mesmo não fala!
Mesmo no Brasil, passei por diversas situações em que, quando a maioria era de estangeiros, o bate papo predominava em qualquer que fosse sua língua materna; ou vice versa, no caso de brasileiros. Não importava se às vezes a conversa era entrecortada para mudar de um idioma a outro, a fim de simpatizar com aquele que ficava muito tempo em silêncio por não acompanhar o ritmo da outra língua, cedo ou tarde o que dominaria era o de maior número dos respectivos falantes nativos.  Eis aí uma lição da vida que trouxe para viagens: na Alemanha, embora muitos tenham certo conhecimento de inglês, a língua de conforto obviamente é a alemã, e, portanto, é com a qual se dá a comunicação como um todo.

Não é para menos. Aqui, pelo contrário, quando você dá as costas, vão comentar como é uma pena que você esteje no país, mas não se esforce em falar o idioma. Por outro lado, se você consegue se expressar um pouco ou um bom bocado com coerência, vai receber um tanto de elogio e apoio. E o que falaram pelas costas sobre outros, vão falar na sua frente sobre os tantos fulanos que há anos moram no país e não conseguem se expressar "tão bem" quanto você - ainda mais se seu nível for superior ao seu tempo de estadia no país ou de estudo do idioma. 

Falo por mim mesma. Estudei dois anos de alemão, aos trancos e barrancos, aterrissei em uma região onde o lema é "sabemos tudo, menos alemão" devido à peculiaridade do dialeto local, cujos detalhes vou dar em outra postagem, e considero meus conhecimentos bem parcos, mas ainda assim, vira e mexe, escuto palavras de apoio em detrimento de outros tantos que moram aqui há 20 anos e, no entanto, não falam metade do que eu consigo. Se tomo por elogio ou , fica por conta de vocês.

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