A vida em sozinho e o que eu aprendi com isso


A vida ou rotina de quem mora sozinho é um tópico de muitas partes, mas gostaria de introduzi-lo falando sobre um dos seus aspectos essenciais que já pude constatar apesar do curto espaço de tempo em que me encontro nesta condição. Refiro-me a cuidar do lar, um ofício que, como qualquer outro, exige zelo e dedicação. E não se trata apenas de tarefas domésticas, como lavar, passar roupa ou pano na casa... É, sobretudo, uma forma de administração. Pelo menos é o que tenho aprendido nos últimos seis meses desde que comecei a morar sozinha na Alemanha. 

Pera. Verdade seja dita, não se trata exatamente do bloco do eu sozinho, pois moro em um Wohngemeinschaften, ou WG, que é uma palavra em alemão para designar um local de residência compartilhada. Divido o cafofo com Doko, uma menina da Mongólia e Jan, um alemão que fica conosco até agosto.

Como Doko chegou há pouco menos de um mês, posso dizer, contudo, que morei praticamente sozinha nos últimos tempos, já que Jan estava frequentemente na Schule (tipo de escola de ensino técnico). Neste período, precisei começar a assumir responsabilidades que antes não me cabiam, como fazer compras de supermercado e cozinhar. Em verdade, nunca gostei e - confesso - continuo não gostando de nenhuma dessas tarefas. 

Para complicar, além da minha falta de talento nato para ambas, morei os 27 anos da minha vida em família, regida por uma mãe que se esforçava em nos dar do "bom e do melhor" como ela mesma costuma dizer. Além de ter gosto pela coisa, ela sempre se ocupou do supermercado e fez por si só ou encarregou outras pessoas de preparar os alimentos, fazendo com que raras fossem as vezes em que precisei me preocupar com algo do tipo. E, para piorar, eu nunca me interessei por nada que dissesse respeito aos "afazeres de casa"... É claro que lavava uma louça aqui, varria a casa ali, mas tudo no grosso, e cozinhar - ah! isso nunca me pertenceu! Meu negócio era estudar - e se minha irmã estiver lendo isso, dirá que sair para a farra também. Por isso, antes de me mudar para Alemanha, é claro que todo mundo se preocupou bastante em como eu iria sobreviver já que nem um arroz sabia cozinhar - continuo não sabendo, mas, ao menos, tentando.

O fato é que agora minha realidade é outra e não demorei a aprender que, para quem mora sozinho, este lenga lenga de menino criado a leite com pera e ovolmaltino na geladeria que enche a boca para dizer 'não sei'/'não gosto' só faz é nos deixar de estômago vazio. O certo - e não o jeito - é se virar. Acabou a moleza de chegar em casa e encontrar a janta pronta, tomar café da manhã com pães e café frescos preparados pelo seu pai ou comer galinha caipiria aos domingos segundo tradição da minha família. Ou tu põe a mão na massa ou vai morrer de fome. Ou vai ao supermercado ou vai sentir apenas o vento da geladeira toda vez que abri-la em busca de comida.

Decidida a largar mão de tanta comodidade - e em nome da sobreviência, é óbvio, - foi assim que finalmente dei no tranco e passei a ir ao supermercado mais do que gostaria bem como dar início aos meus trabalhos na cozinha (leia aqui a relação entre cozinhar e fazer compras). Os primeiros resultados não foram muito animadores, fique você sabendo, mas o importante é não desistir. Nesta empreitada, já acumulei algumas experiências, por exemplo, o arroz vai queimar uma vez, colar no fundo da panela uma segunda e, uma terceira, você vai descobrir que ele deve ser cozinhado dentro do saquinho! 
Da mesma forma, na quarta vez que precisar voltar ao mercado tão logo pisar os pés em casa depois de perceber que esqueceu o papel higiênico, garanto que quem mora sozinho nunca mais deixará de dar uma olhada no freezer e na dispensa para conferir o que está faltando e fazer uma lista antes de ir às compras. no caso da Alemanha, levar consigo todas as sacolas recicláveis que possui para trazer as compras é essencial, pois aqui cada sacola custa pelo menos um euro. Em termos mundiais, eu faria isso para o bem do meio ambiente.
E apesar dos trancos e barrancos, posso dizer que estava indo muito bem... ou pelo menos minha persistência me fazia bem! O problema no momento é que a Doko chegou e estragou tudo com seus dotes culinários. Ela já cozinhou mais em sua curta estadia do que eu meses sozinha. Embora não devesse reclamar, afinal parece que ela surgiu para me salvar, preciso confessar que voltei a relaxar e tenho procurado/precisado cozinhar menos. Sobretudo, Doko faz por gosto e carinho ao passo que eu o faço por obrigação e estômago vazio. Aparte disso, reconheço que devo me esforçar mais. Estava até gostando da sensação de tentar algo pela primeira vez, não obstante meus fracassos. Mas como sou , voltarei a me empenhar e, se você me acompanhar nesta jornada, espero poder contar novidades de lá pra cá. Ou de cá pra lá, como queira.

E eram estas algumas das primeiras formas de organização do lar de que nunca me dei conta. Tão simples, mas deveras importantes. E não precisa morar sozinho para saber disso, você já deve ter notado. Caso contrário, deixa de ser tosco e sai da sua zona de conforto. Só por curiosidade, pergunte para o administrador do lar como ele faz para regular quais alimentos estão sobrando ou faltando na dispensa, por que compra neste e não naquele supermercado, qual tempero usa no seu refogado favorito (e depois me conta porque tá difícil!) e por aí vai. Ajude na louça também. Diariamente, pois, até agora, posso dizer que este é o problema número um de todo mundo que mora sozinho!

Espero que tenha gostado e possa dividir suas experiências comigo também!

3 comentário(s)

  1. Poxa, Janinha, não sabia que você tinha criado um blog novo, que massa! Me identifiquei muito com seu post. Saí da casa dos meus pais direto para a vida de "casada" com uma casa para cuidar. Também ainda estou me adaptando, apesar das tarefas aqui serem bem divididas. O Ricky gosta de cozinhar e eu não tanto, então ele cozinha e eu lavo a louça, mas nem sempre ele chega do trabalho com ânimo para cozinhar, então de vez em quando a tarefa sobra para mim. Aprendi a fazer arroz e feijão para quando a saudade de casa bate e meu strogonoff de frango não é dos piores. Pouco a pouco estou aprendendo a fazer mais coisas.

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    1. Pois é, Giu. A gente aprende um montão!! Poderíamos trocar figurinhas porque estou sofrendo pencas ainda hahaha aos poucos, vou postar outras experiências que tive. E, saiba, você tá anos luz à frente! Ainda não cheuguei no Strogonoff. Aliás, eles nem sabem o que é Strogonoff aqui hahaha.

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  2. Ah, Jana..que bacana ler tudo isso. É uma alegria poder acompanhar suas aventuras por aí. E digo mais: gostaria de ver vídeos! Bem, passados 6 anos desde que saí da casa dos meus pais (oh yeah) já posso dizer que cozinho relativamente bem =D

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