Antes e depois do coronavírus - relatos de amigos de mais de 20 países



Idiomas/Languages/Sprache: Português brasileiro, Deutsch, English, Spanisch

For English and German versions only, please click here.

🇧🇷 Lemos e ouvimos no noticiário todos os dias que, na medida em que a pandemia do coronavírus cresce e se desenvolve, milhões de pessoas foram infectadas ou faleceram nos últimos meses. Chegou ao ponto que o número de mortes e pessoas doentes se tornou meras estatísticas... ficou impessoal demais para uma situação que é na verdade desoladora.

Pessoalmente, estive em autoisolamento em casa em Stuttgart, Alemanha, mas e quanto às pessoas na Indonésia? Ou Moçambique? Ou Nicarágua? Eu sei, eu sei... poderia muito bem usar os mecanismos de busca online para encontrar quaisquer que sejam as notícias a este respeito, mas sei que tratarão sempre da mesma coisa: relatos sobre o número de mortes, medidas de confinamento, impactos econômicos... mas não era isso que eu queria saber.

Tenho amigos espalhados pelo mundo inteiro e, de repente, me peguei pensando como eles estavam lidando com a quarentena – isto é, se é que estavam em quarentena. Então, decidi entrar em contato com eles e ouvir o que tinham a dizer.

Perguntei-lhes o que estava por trás das estatísticas em seus países. Minha intenção era conhecer o lado real e pessoal de suas histórias e lutas enquanto lidam com a crise que assola todo o mundo. E, olha, tenho muita sorte de conhecer tantas pessoas legais e de cabeça aberta. Quase que imediatamente, recebi vários “sim” ao meu convite para contarem seus pontos de vista.  A maioria das pessoas com quem falei estava disposta a contar suas histórias de pronto. No total, recebi relatos de 37 pessoas a partir de 28 países (isto é, todos os continentes, exceto Antárctica), 17 dos quais estão disponíveis também em tradução do inglês e alemão (meu muito obrigada à Danielle Lima pela tradução do espanhol!). E só tenho a dizer como estou comovida pelo resultado.

Quanto mais as pessoas compartilhavam suas histórias comigo, mais eu conseguia traçar paralelos entre elas – mesmo que a maioria dessas pessoas nunca tenham se conhecido antes ou estejam separadas por continentes. Em determinado ponto, como você vai ver abaixo, independente de onde estivessem, meus amigos e minhas amigas estavam passando pelas mesmas ansiedades, medos e até mesmo esperança, por exemplo, de que seremos mais gentis uns com os outros quando tudo isso acabar.

É claro que algumas histórias são de cortar o coração quando vemos como o coronavírus fez com que as pessoas interrompessem o sonho de uma vida toda mediante o fechamento de fronteiras; como o vírus endureceu ainda mais a vida nas comunidades pobres com as medidas de confinamento uma vez que elas não permitem às pessoas que precisam sair de casa para trabalhar como único meio de sustento; ou ainda como revelou a que ponto governos ditatoriais não se envergonham em mostrar de uma vez por todas como desprezam a vida do povo que "governam" ao negarem os perigos do coronavírus ou até mesmo falsificarem os números de infectados e mortos. Mas esta compilação também inclui histórias de como as pessoas estão lidando com a quarentena e como ela transformou nossas relações com a gente mesmo e com as pessoas com quem ainda matemos contato – a exemplo do que uma amiga mencionou: “embora estejamos interagindo com menos pessoas, essas interações parecem mais reais e profundas do que antes.”

Mas vou parar com os spoilers... Fica aqui o convite para que você leia a histórias abaixo, compartilhe e, quem sabe, aprenda com eles.

Meu muito obrigada e boa leitura!

  1. África do Sul (Südafrika / South Africa) 🇩🇪 🇧🇷
  2. Austrália (Australien / Australia) 🇧🇷
  3. Áustria (Österreich / Austria) 🇦🇹 🇧🇷
  4. Azerbaijão (Aserbaidschan / Azerbaijan) 🇩🇪 🇧🇷
  5. Bangladesh 🇧🇩 🇧🇷
  6. Bélgica (Belgien / Belgium) 🇬🇧 🇧🇷
  7. Cabo Verde 🇨🇻 (Kap Verde / Cape Verde)
  8. Canadá (Kanada / Canada) 🇬🇧 🇧🇷
  9. Chile 🇨🇱 (español) 🇧🇷
  10. Colômbia (Kolumbien / Colombia) 🇩🇪 🇧🇷
  11. Costa Rica 🇧🇷
  12. Equador (Ecuador) 🇧🇷
  13. Espanha (Spanien / Spain) 🇧🇷
  14. EUA (USA) 🇺🇸 🇧🇷
  15. França (Frankreich / France) 🇧🇷
  16. Geórgia (Georgien / Georgia) 🇩🇪 🇧🇷
  17. Indonésia (Indonesien / Indonesia) 🇩🇪 🇧🇷
  18. Irlanda (Irland/ Ireland) 🇧🇷
  19. Israel 🇩🇪 🇧🇷
  20. Itália (Italien / Italy) 🇬🇧 🇩🇪 🇧🇷
  21. Japão (Japan) 🇧🇷
  22. Nicarágua (Nicaragua) 🇩🇪 🇧🇷
  23. Nigéria (Nigeria) 🇳🇬 🇧🇷
  24. Peru 🇩🇪 🇧🇷
  25. Polônia (Polen / Poland) 🇧🇷
  26. Portugal 🇧🇷
  27. Rússia (Russland / Russia) 🇩🇪 🇧🇷
  28. Uganda 🇺🇬 (English) 🇧🇷


África do Sul (Südafrika / South Africa)


Marius Polak


🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Wie du vielleicht weißt bin ich seit Juli 2019 in Südafrika und engagiere mich hier bei einem sozialen Projekt. Corona hat Südafrika etwa 1 bis 1,5 Wochen nach Deutschland erreicht. Die Regierung hat erstaunlich schnell, aber gleichzeitig auch extrem hart reagiert. Innerhalb von etwas mehr als einer Woche wurde ein Lockdown eingeführt, der einer der härtesten und strengsten Lockdowns der Welt ist.

Am 26.03.2020 begann der Lockdown und war ursprünglich für drei Wochen angesetzt. Vor einigen Tagen wurde er allerdings um zwei weitere Wochen verlängert.

Während des Lockdowns darf man seine Wohnung nur noch in wenigen Ausnahmen verlassen. Dazu gehört: Lebensmittel (ausschließlich) kaufen, Sozialhilfe empfangen und bei der Bank einlösen, zur Apotheke und ins Krankenhaus gehen. Alles andere wird streng bestraft mit einer Geldstrafe von ca. 270€ oder einer Gefängnisstrafe. 270€ ist für viele Südafrikaner*innen mehr ein Monatsgehalt oder mehr. Für den Großteil allerdings ist es weitaus mehr als das, da in Südafrika die arme Bevölkerung den weitaus größeren Teil in Südafrika ausmacht.

Besonders die Menschen, die in den Townships (vergleichbar mit Slums oder Favelas) leben trifft der Lockdown besonders hart. Viele Menschen dort sind Tagelöhner, leben vom einen Tag in den nächsten und müssen nun schauen wie sie sich mit Lebensmitteln versorgen können. 

Dazu kommt das ein Social Distancing in den Townships quasi unmöglich ist, da die Häuser häufig nur einfache Blechverschläge sind, die wenigsten haben fließend Wasser, eine Toilette oder eine Dusche. Es gibt meistens Sanitäranlagen, die gemeinschaftlich genutzt werden. Dies bedeuted auch, dass ein Ausbruch von Corona dort besonders schlimm wäre, da es keine Möglichkeiten gibt sich von anderen Menschen zu distanzieren.

Verstärkt kommt hinzu, dass die Gesundheitsversorgung hier zwar, im Vergleich zu anderen afrikanischen Ländern, gut ist, aber bei weitem noch nicht angemessen in Relation zur Bevölkerungsanzahl.

Seit rund einer Woche gibt es Programme, die Menschen aus den Townships und ärmeren Nachbarschaften mit Lebensmitteln versorgt, dies läuft allerdings nur schleppend voran weil es nicht genügend Helfer*innen gibt und weil ausgewertet werden muss welche Region am schlimmsten betroffen ist um dort so schnell wie möglich zu helfen.

Trotz allem bin ich sehr froh, dass die Regierung einen so strengen Lockdown festgelegt hat, denn das ist aktuell der einzige Weg einen noch schlimmeren Ausbruch des Virus zu verhindern.

Ich selbst habe mich vor einigen Tagen dazu entschieden an dem Rückholprogramm der Bundesregierung nach Deutschland teilzunehmen, da der Lockdown verlängert wurde und eine Heimreise, wie ursprünglich geplant im Juli, immer unwahrscheinlicher wird. Zumal man auch davon ausgehen kann, dass die Unruhen im Land, überfälle, einbrüche etc. weiter ansteigen werden, da viele Menschen sich nicht mehr leisten können Lebensmittel zu kaufen die ohnehin teurer geworden sind in den letzten Wochen.

So, ich hoffe der kurze Bericht gibt dir ein bisschen einen Einblick in das Leben in Südafrika :) Falls du noch was wissen möchtest kannst du gerne nachfragen!

Liebe Grüße
Marius

🇧🇷 Português

Como você talvez já saiba, estou desde julho de 2019 na África do sul engajado em um projeto social aqui. O coronavírus chegou na África do Sul entre 1 e 1,5 semana depois da Alemanha. O governo daqui reagiu surpreendentemente rápido, mas ao mesmo tempo de forma bastante rígida. Dentro de mais ou menos uma semana começou o lockdown (sistema de confinamento total, em casa, com fechamento de comércio e interrupção de várias atividades), o qual é um dos mais duros e rigorosos do mundo.

O confinamento começou em 26 de março e em princípio foi determinado a durar três semanas. Há alguns dias, no entanto, foi prorrogado por mais duas semanas.

Durante o isolamento, você só pode sair de casa sob algumas poucas exceções, que incluem: para comprar (exclusivamente) comida, receber assistência social e sacar dinheiro do banco, ir à farmácia ou ao hospital. Qualquer outra justificativa é severamente punida com uma multa de cerca de 270 euros (aprox. R$ 1600) ou sentença de prisão. Aqui, 270 euros equivale a um mês ou mais de salário de muitos sul-africanos. Para a grande maioria, no entanto, é muito mais do que um mês de salário, já que a maior parcela da população da África do Sul é pobre.

As pessoas que vivem nas townships (algo como as favelas) são em particular as mais duramente afetadas pelo sistema de confinamento. Muitos dos que moram lá são pessoas que ganham por dia trabalhado, que dependem desse trabalho para comprar o pão do dia seguinte, e que agora precisam ver como vão conseguir comida.

Soma-se a isso o fato de que o distanciamento social é praticamente impossível nas townships, pois as casas com frequência são barracos construídos com chapas de metal, nos quais muito poucos têm água corrente, um vaso sanitário e um chuveiro. Na maioria dos casos o que existe são áreas sanitárias que são usadas coletivamente. Isto significa que um surto de coronavírus seria particularmente ruim nestes locais, pois não existe nenhuma possibilidade de manter a distância uns dos outros.

No mais, o sistema de saúde daqui, embora seja bom quando comparado ao de outros países da África, ainda está longe de estar adequado para atender ao tamanho da população.

Há mais ou menos uma semana existe um programa que fornece comida aos moradores das townships e bairros pobres vizinhos. O programa, porém, está se desenrolando devagar porque não há ajudantes suficiente e é preciso avaliar para decidir qual é a região mais afetada e, assim, ser possível ajudá-la o quanto antes.

Apesar de tudo, estou muito feliz que o governo tenha implementado um sistema de confinamento tão rigoroso, pois esta é a única forma de evitar que o surto piore ainda mais.

Pessoalmente, decidi há alguns dias participar do programa de retorno à Alemanha oferecido pelo governo alemão para retornar para casa porque o confinamento será prorrogado e a minha viagem de volta, inicialmente planejada para julho, está se tornando cada vez mais inviável. Também é de se supor que o número de motins, assaltos, invasões etc. só tendem a crescer uma vez que as pessoas já não conseguem comprar comida desde que ficaram mais caras nas últimas semanas.

Então, espero que este curto relato lhe dê uma pequena perspectiva da vida na África do Sul :) Se precisar de mais alguma coisa, pode perguntar à vontade!

Marius


Austrália (Australien / Australia)


Giulyanne Costa, Perth 



🇧🇷 Português

Confesso que quando ouvi falar do COVID-19 eu não dei muita bola. Por aqui começaram a falar mais sobre o vírus no final de janeiro. A maioria dos casos que noticiavam era na China, então não me preocupei muito. O que se noticiava era que o vírus se assemelhava a uma gripe mais forte e não afetava muita gente. Comecei a me preocupar mais no começo de março. Os casos fora da China começaram a aumentar e o número de mortos também. Eu diria que a Austrália levou muito tempo para reagir. Muitas pessoas e até o governo estavam agindo como se nada estivesse acontecendo. No começo de março as restrições começaram. As pessoas entraram em pânico e de repente não se achava mais papel higiênico no supermercado. Foi algo muito surreal, pois a maioria dos outros produtos estavam em estoque, menos o papel higiênico. A prioridade dos Australianos por algum motivo não era a comida, era o tal do papel higiênico. Pessoas estavam saindo do mercado com carrinhos cheios de pacotes. Os supermercados estocavam à noite e poucos minutos após abrir, já estava tudo esgotado de novo. Após algumas semanas, os enlatados, arroz, macarrão e farinha começaram a sumir também.

Todas as pessoas que vinham do exterior agora tinham que se isolar por 14 dias. Eu tinha uma viagem marcada para Sydney no final de março, para visitar uma amiga que mora lá e uns amigos vindos do Brasil que estariam lá também. Eles tinham ido passear na Nova Zelândia e quase não conseguiram voltar para Sydney. Ainda não havia restrições para viagens domésticas, mas achamos melhor não arriscar, até porque as crianças colocam absolutamente tudo na boca e seria muito difícil controlá-las no avião e nos aeroportos. Compramos as passagens com pontos e conseguimos cancelar e pegar os pontos de volta.

Meus amigos conseguiram voltar para Sydney e tiveram que se isolar por 14 dias. Depois de uma série de voos cancelados, meus amigos conseguiram voltar para o Brasil, via Chile.

O que eu vejo por aqui agora, é uma mistura de vida normal e restrições. O governo pede para quem pode trabalhar de casa, trabalhar de casa. Quem não pode, continua trabalhando fora, mas deve seguir as regras de distanciamento social e higiene. As restrições aqui seguiram por nível. Primeiro, implementaram home office para todo mundo que podia e proibiram eventos ao ar livre com mais de 500 pessoas. A corrida de Fórmula 1 foi cancelada 1 dia antes de ocorrer. Depois, fecharam as praças de alimentação nos shoppings e todos os restaurantes e cafés agora só podem servir comida para viagem ou para entrega. Depois disso, restringiram o número de pessoas para menos de 100 em lugares fechados. O pico das infecções ocorreu no estado de NSW e eles tiveram um problema ainda maior por causa dos cruzeiros que estavam chegando por lá.

Por causa disso, o estado onde moro, Western Australia, colocou várias restrições na fronteira. Qualquer pessoa que viesse de outro lugar, incluindo de dentro da Austrália, agora teria que se isolar por 14 dias. As academias, igrejas e grande parte do comércio não essencial também tiveram que fechar. Casamentos só podem ocorrer com a presença de no máximo 5 pessoas, contando os noivos. Velórios só podem ter 10 pessoas. E todos devem seguir as regras de distanciamento e higiene.

O que mais me intrigou é que eles não fecharam as escolas e as creches. No momento estamos em férias escolares, mas acredito que quando as férias acabarem, as aulas voltam normalmente. O que o governo tem feito é pedir para quem pode ficar com as crianças em casa, ficar em casa. Para os trabalhadores essenciais, as crianças podem ir para a escola. A justificativa do governo é que, as crianças desses trabalhadores muito provavelmente ficariam sendo cuidadas pelos avós, que estão no grupo de risco, ou então perderíamos mão de obra essencial (médicos, enfermeiros e etc.) porque eles não teriam com quem deixar as crianças. Então, as escolas estavam funcionando de forma presencial e também mandando atividades e aulas para os pais educarem as crianças em casa. Não sei como vai ser daqui a poucas semanas quando as aulas voltarem.

A cada dia que passa, sinto que as restrições aumentam, pois tem muita gente que ainda quebra as regras. As praias em NSW tiveram que ser fechadas, pois muita gente estava lotando as praias e não estavam seguindo as regras do isolamento.

Atualmente (11/04) estamos com 6.292 casos confirmados na Austrália e 56 mortes. Aqui no meu estado (WA), são 514 casos e 6 mortes. Um total de 21.591 foram testadas e não apresentaram o COVID-19. Dos 514 casos, muitos vieram de cruzeiros. 216 pessoas já se recuperaram, então o número de casos ativos aqui em WA é 292. A média geral de casos por dia está em cerca de 12.

Isso deve-se a todas as medidas de isolamento que tomaram aqui. O estado fechou as fronteiras. Só vem para cá quem trabalha com serviços essenciais (como o transporte de alimentos e outros produtos). O estado é divido em regiões, e no momento estamos impedidos de viajar de uma região para outra também. De novo, há poucos casos de exceção, como transporte de mercadorias e quem trabalha em uma região, mas mora em outra.

O governador daqui tem sido ótimo, em sua página no Facebook ele dá atualizações diárias dos casos aqui no estado (leia aqui).

Acredito que a maioria das pessoas aqui estão muito preocupadas com o que nós vemos no exterior. A situação nos EUA e na Europa deixou muita gente aqui com medo. 

Qualquer pessoa que chega na Austrália agora passa por um isolamento obrigatório em hotéis escolhidos pelo governo. Só podem sair após o período de 14 dias. Se tiverem que viajar para outro estado para voltar para casa, devem passar mais 14 dias em isolamento em local escolhido pelo governo quando chegarem lá. Aqui em WA tem uma ilha turística que está sendo usada para isso. Fecharam a ilha para o turismo e quem chega aqui vindo de outros estados ou países tem que se isolar lá.

Minha vida aqui não mudou muito. Como tradutora, eu já trabalho de casa. Meu marido trabalha com pintura de equipamentos industriais para a mineração (setor vital para a economia do estado, e que continua funcionando normalmente), e como não pode fazer isso de casa, ainda está trabalhando. Todos os outros funcionários da empresa (recepcionistas, secretárias, gerentes, etc.) que podem trabalhar de casa, estão trabalhando de casa. O trabalho dele já requer que eles usem máscaras e luvas, então de uma forma estamos menos preocupados com infecções vindo do lá. Eu tinha uma rotina bem agitada com as crianças. Eu ia para a academia de manhã e deixava as crianças na creche de lá. A gente também fazia parte de dois playgroups aqui, um com crianças aqui de perto e outro que era só para brasileiros. Agora não fazemos mais isso e sinto que minha filha mais velha (2 anos e meio) está sentindo muita falta da agitação e de brincar com seus amiguinhos. Temos sorte de ter uma casa com quintal grande, que cabe escorregador, cama elástica e etc., então ela ainda tem bastante espaço para brincar aqui. Também tenho sorte porque as crianças são muito pequenas para entender o que está acontecendo. Tenho amigos com crianças mais velhas (8, 9 anos) que estavam ficando muito ansiosas com essa questão do vírus, ao ponto de não conseguirem dormir direito.

Como aqui tem relativamente poucos casos, acho que tem muita gente que está começando a se descuidar. Fui ao mercado esses dias e a sensação que tive é que ainda tem muita coisa acontecendo “normalmente”. Ainda tem muitos carros na rua e muitas pessoas ainda saem para fazer caminhada juntas. Mas as pessoas pararam de limpar as prateleiras dos mercados. Agora já se acha papel higiênico.

Giulyanne Costa


Julia Rovery


🇧🇷 Português

“Você esteve na China nas últimas 2 semanas ou fez conexão pela China?” essa foi a pergunta feita por um agente de migração na fronteira da Austrália que inaugurou a minha experiência com o COVID-19. Eu cheguei em Sydney no início do mês de fevereiro depois de algum tempo morando na Europa. Eu e meu namorado australiano não nos víamos a 9 meses e eu resolvi vir para vê-lo e escrever minha tese de mestrado. O mês de fevereiro foi maravilhoso. Nós fomos a vários bares e restaurantes, fizemos uma roadtrip, curtimos uma prainha, visitamos os pais dele e até começamos uma classe de salsa! Eu estava contente também porque comecei um trabalho como voluntaria em uma organização na minha área que presta assistência a solicitantes de refúgio.

Eu comecei a me preocupar com o vírus no mês de março. Como vários amigos do mestrado estão em terras europeias eu acompanhava o aumento no número de casos, as medidas para o controle do vírus, e me acostumava com o vocabulário do COVID, e palavras como “quarentine”, “self isolation” e “lockdown” se faziam cada vez mais presentes. Com a minha família no Brasil eu também tentava monitorar a situação do lado de lá. Por aqui tudo praticamente normal com exceção do papel higiênico que sumiu das prateleiras do supermercado. Administrar as expectativas com relação ao vírus das pessoas no meu país de origem, no meu local de estudo e no meu endereço atual quase me levou a loucura. Tentar convencer e alertar não estava me levando a lugar nenhum e estava me afastando da única pessoa que eu tinha fisicamente ao meu lado. Eu estava com uma dificuldade imensa de escrever e o que me acalmava era limpar freneticamente a casa, meu namorado passava um tempo sozinho escutando música e meus amigos me ligavam com culpa porque estavam comendo ou bebendo um pouco além da conta. Com o passar dos dias eu aprendi a aceitar que cada um responde à sua maneira a situações de emergência, cada qual tem seu escape e sua maneira de processar os acontecimentos. A frase que eu mais comecei a dizer as pessoas próximas a mim foi “faça o que você acredita que você precisa para superar este momento”, e esse pensamento começou a me trazer alguma tranquilidade.

Foi no meu trabalho volunt´rio que eu comecei a perceber a dimensão da crise em Sydney já que, infelizmente, os primeiros a serem atingidos são aqueles indivíduos que já são marginalizados e vulneráveis- migrantes, mulheres e crianças. Em questão de dias deixar um Centro que recebe dezenas de pessoas todos os dias de várias partes do mundo aberto para visitas já não era possível, e negar ajuda aos migrantes no momento que eles mais precisam também não, assim a maior parte do staff se organizou para trabalhar remotamente, inclusive os voluntários. Meu trabalho é atender as ligações dos clientes e fazer uma triagem de acordo com os serviços requisitados. São três pessoas atendendo a essas chamadas. Na última segunda feira eu sozinha atendi a 30 ligações de solicitantes que haviam perdido seus empregos e não tinham condições de pagar o aluguel e/ou comida. É desesperador. O silver lining são as várias ligações de pessoas dispostas a ajudar e fazer doações. De fato, o foodbank da organização nunca esteve tão cheio.

Abril chegou, a situação se agravou, minha tese esta por escrever, meu voo de volta a Alemanha marcado para o fim desse mês foi cancelado, meu visto expira dali a alguns dias assim como o contrato do apartamento que dividimos com outras duas pessoas. Em geral, os dias têm sido de medo e ansiedade, mas também de gratidão por não estar sozinha e de reconhecimento de privilégios. Todos os dias antes de dormir meu namorado me abraça e me diz que esta feliz por eu estar aqui e eu respondo que apesar das dificuldades de estar em um quarto 24h juntos não tem ninguém mais com quem eu escolheria passar uma pandemia.

Julia Rovery de Souza


Áustria (Österreich / Austria)


Elisabeth Mürzl, Viena


🇦🇹 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Wie in vielen anderen Ländern Europas ist das Leben in Österreich derzeit anders, als wir es bisher gewohnt waren. Das öffentliche Leben wurde aufgrund der Corona-Pandemie stark eingeschränkt: Ausgangsbeschränkungen, geschlossene Schulen, Universitäten, Kindergärten und Geschäfte, Maskenpflicht in Supermärkten. Das eigene Zuhause zu verlassen war nur zu drei Zwecken erlaubt: um zu arbeiten, notwendige Besorgungen zu erledigen oder jemand anderes zu helfen (z.B.: um Einkäufe für Personen aus besonders gefährdeten Gruppen zu erledigen). Zuhause zu bleiben ist für mich zum Glück kein Problem. Ich wohne in einer netten Wohnung, kann meinem Studium auch von zuhause aus nachgehen; ich habe einen Balkon und einen lieben Mitbewohner. Nicht nur in diesen Zeiten ist das alles ein Privileg. 

Wenn ich mir Gedanken über die aktuelle (politische) Lage mache, fallen mir viele Punkte ein, ein paar davon schreibe ich hier auf: ich als Bürgerin finde es wichtig, dass beispielsweise die Protokolle der Sitzungen des Krisenstabs, aufgrund derer die Regierungen über weitere Maßnahmen entscheidet, öffentlich gemacht werden. Nur so kann das Handeln der Regierung transparent sein und sich auch Kritik aussetzen. Und Kritik ist absolut notwendig für eine vitale Demokratie. 

Eine weitere Beobachtung: für viele Menschen ist das Dashboard mit den aktuellen Zahlen für Infizierte und Todesfälle zu einer Soap Opera geworden ist. Gerade jetzt sollten wir uns die Zeit für Diskussionsrunden und Hintergrundgespräche nehmen, und uns nicht selbst mit einem Blick auf ein Dashboard in Panik versetzen. 

Dass oft das Wissen zur Übertragbarkeit eines Virus fehlt, zeigt mir in den letzten Tagen auch das falsche Tragen eines Mund- und Nasenschutzes (nur über den Mund, mit den Fingern auf den Stoff greifen, den Schutz nach dem Tragen einfach runter auf den Hals ziehen und was einer* / einem da noch so alles einfallen könnte). Nein, ein falsch verwendeter Mund- und Nasenschutz ist nicht besser als gar keiner. 

Wenn ich meine persönliche Lage gerade zusammenfassen müsste, dann wohl so: Ich bleibe zuhause und kritisch, das schließt sich nicht aus.

(Und noch ein Appell an alle in sogenannten Nicht-Risikogruppen; wir wissen, dass wir wenig wissen. Die Langzeitfolgen einer überstanden Covid19-Infektion sind schlicht noch nicht bekannt.)

Elisabeth Mürzl 



🇧🇷 Português

Tal qual em muitos outros países da Europa, a vida na Áustria atualmente é diferente daquela que estávamos acostumados até agora. Devido à pandemia do coronavírus, a vida pública foi reduzida ao mínimo: saídas restritas; fechamento de escolas, universidades e estabelecimentos comerciais; uso obrigatório de máscaras em supermercados. A permissão para sair de casa se aplica a apenas três finalidades: ir ao trabalho, resolver assuntos de necessidade na rua ou ajudar alguém (por exemplo, fazer compras para grupos particularmente vulneráveis). Felizmente, para mim não tem problema ficar em casa. Moro em um apartamento legal, posso continuar meus estudos de casa; tenho uma varanda e um colega de apartamento bacana. Em tempos como esse, isto é um privilégio.

Quando penso sobre a situação (política), ocorrem-me várias questões, algumas das quais apresento aqui: como cidadã, acho importante que, por exemplo, as atas das reuniões das equipes de gerenciamento de crise, com base nas quais os governos decidem adotar as próximas medidas, sejam colocadas à disposição do público. Apenas assim as ações do governo podem ser transparentes como também serem submetidas a críticas. E críticas é são absolutamente necessárias em uma democracia saudável.

Uma outra observação: para muitas pessoas, o painel com os números atuais de infectados e mortes se tornou uma novela. Neste exato momento, deveríamos usar o tempo para organizar mesas redondas e debates entre políticos e mídia especializada ao invés de entrarmos em pânico depois de passar o olho sobre números num painel.

O fato de que frequentemente nos falta conhecimento sobre a forma de transmissão de um vírus também me mostrou nos últimos dias como manuseamos os protetores nasal e bucal incorretamente (com os dedos, puxar a máscara da boca para o pescoço após o uso). Não, o uso incorreto de um item te proteção nasal ou bucal não é melhor do que não usar nada.

Se eu tivesse que resumir minha situação pessoal agora, então seria: estou em casa enquanto tenho minhas críticas à situação - e um não exclui o outro.

(E mais um apelo a todos os chamados grupos sem risco: nós sabemos que pouco sabemos. Ainda não se conhece as consequências a longo prazo pós-infecção do COVID-19).

Elisabeth Mürzl


Azerbaijão (Aserbaidschan / Azerbaijan)


Bayim Quliyev


🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Hallo Jana. Danke dir. Mir gehts gut. Es ist wirklich wir haben schon lange net gesprochen schade gel? Also ja wegen des Quarantäne bleiben wir zu Hause. In ganzen Aserbaidschan ist Quarantäne. die Schulen., Universitäten u.s.w arbeiten nicht. Man darf aus dem Haus nicht rausgehen, wenn es unnötig ist. Die Regierung gibt die Arbeitslosen Menschen Geld, damit sie ihre Familie ernähren können. Ich bin Lehrer. Sitze seit 8 März zu Hause. Aber wir, die Lehrer, bekommen unsere Lohn. In Aserbaidschan sind bis jetzt 8 Personen von Kovid 19 gestorben

Bayiim Quliyev

🇧🇷 Português

Oi, Jana, estou bem, obrigado. Realmente, faz muito tempo que não nos falamos. Pena, né? Quanto à quarentena, a gente fica em casa. Todo o Azerbaijão está em quarentena. Escolas, universidades etc. estão fechadas. Não é permitido sair de casa sem necessidade. O governo dá dinheiro para os desempregados para que possam alimentar suas famílias. Sou professor. Estou desde 8 de março em casa, mas nós, professores, recebemos nosso salário. Morreram 8 pessoas de COVID-19 até agora no Azerbaijão.

Bayiim Quliyev


Bangladesh


Shaharin Elham Annisa, Bangladeshi-Omani 


🇧🇩 English (Tradução para o português abaixo)

Growing up in Oman, I never thought I'd spend longer than two weeks in Bangladesh, where I was originally born. Call it coincidence or luck, somehow my family and I travelled from different parts of the world to Bangladesh, aiming to stay just one week for a wedding... This was a week before the world went upside down...

I remember clearly, while walking all dressed up to the venue of the wedding - "My god there is no place to walk! My god, why is this place so crowded? Why can’t these people just stay home?" I was frustrated to see the crowd, to hear all the mumbling, screaming and loud laughter. It was driving me crazy...

It took only one week. Over night, there was news of a lockdown. The army, navy and air force all teamed up and were out sending people home. First the small shops closed, then the bigger ones... Then everything shut down expect the pharmacies and essential grocery stores... The noises shut down... In a week, all the vendors were gone from the streets, no traffic... No waking up with the loud calls of vendors downstairs. It was like as if someone turned on the mute button...

Gradually, one day extended to the next, to weeks and finally months... now, it is surreal not to have sunlight, it is surreal not to have a tea in the corner street: it is surreal to only hear the cries of the hungry street dogs that no one feeds... Today, I crave for those crowded, loud streets that annoyed me so much month and a half ago; I crave to hear all those thousands of kinds of noises... I crave to people’s lives, to feel life...

And now I crave for simple things like coffee every morning, a walk to work, reading a book in the library...

However, in these times you see how strong the social capital of Bangladeshi neighborhoods can be. An entire system of safety organically took birth within hours of the first lockdown. People of our building got together and put up a fund and a system... only one person takes a list of the groceries the building needs and goes out to buy them. People take turns…

Small veg vendors come twice a week and supply vegetables to the building... We don’t have a lot of essential things like milk, eggs, bread, ginger, but what we do have is a strong sense of community... After the first month, the rooftops of buildings started to sprout life. Just before evening prayers, people now gather in different rooftops, either exercising or having tea or simply standing there... Simply enjoying the small things in life...

Shaharin Elham Annisa

🇧🇷 Português

Tendo crescido em Oman, nunca imaginei que passaria mais de duas semanas em Bangladesh, que é na verdade onde nasci. Chame isso de coincidência ou sorte, de alguma maneira eu e minha família viajamos de diferentes partes do mundo para Bangladesh a fim de ficar apenas uma semana para um casamento... esta era a semana antes do mundo virar de cabeça para baixo...

Lembro muito bem, enquanto estava caminhando toda arrumada para o local do casamento (de pensar) – “Meu Deus! Não tem espaço para andar! Meu Deus, por que este lugar está tão cheio? Por que essas pessoas não podem simplesmente ficar em casa?” – estava frustrada ao ver a multidão, ouvir todos aqueles burburinhos, gritos e gargalhadas às alturas. Aquilo estava me deixando louca...

Durou apenas uma semana. Do dia pra noite, vieram as notícias sobre o confinamento total. O exército, a marinha e a força aérea se uniram e foram às ruas para mandar as pessoas pra casa. Primeiro, as lojas pequenas fecharam as portas, depois as maiores... então, foi tudo fechado, exceto as farmácias e outros estabelecimentos que vendam produtos e serviços de primeira necessidade. O barulho foi silenciado... Em uma semana, todos os vendedores tinham desaparecido das ruas, não havia trânsito... eu já não era mais despertada pelos anúncios altos e sonoros embaixo do meu prédio. É como se alguém tivesse apertado o botão de mudo...

Pouco a pouco, um dia virou outro, então semanas e, por fim, meses... agora, é surreal não ter luz sol; é surreal não tomar chá na esquina; é surreal ouvir nada mais que o choro dos vira-latas famintos pelas ruas, sem ter ninguém que os alimente... hoje, anseio por aquelas aglomerações, as ruas abarrotadas e barulhentas que me encheram tanto o saco um mês e meio atrás; anseio ouvir todos os milhares de barulho diferentes... anseio pela vida das pessoas, em sentir a vida...

E agora anseio coisas simples, como uma xícara de café todas as manhãs, ir à pé ao trabalho, ler um livro numa livraria...

No entanto, em tempos como esse, você vê quão forte o capital social dos bairros em Bangladesh pode ser. Todo um sistema de segurança tomou forma organicamente ainda nas primeiras horas do primeiro confinamento. As pessoas do nosso prédio se reuniram e criaram um fundo e um tipo de sistema: uma única pessoa recolhe a lista de compras que o prédio precisa e sai para comprá-las. Daí, as pessoas se revezam.

Pequenos produtores vêm duas vezes na semana e fornecem legumes para o prédio... não temos um monte de itens essenciais como leite, ovos, pão, gengibre, mas o que temos é um forte senso de comunidade... Após o primeiro mês, os terraços do topo dos edifícios começaram a brotar com vida. Pouco antes das preces noturnas, as pessoas agora se reúnem em vários desses terraços para fazer exercícios, tomar chá ou ficar apenas lá, meramente em pé... Pura e simplesmente apreciando as pequenas coisas da vida.

Shaharin Elham Annisa


Bélgica (Belgien / Belgium)


Jeremy Zeh


🇬🇧 English (Tradução para o português abaixo)

There were similar measures taken here in Belgium as in Germany and other European countries. I arrived here Beginning of March and on the next day, in the evening I was supposed to go back, the measures were put into action from 12 AM. My flight was late at night and for the reason that I would have arrived after 12 I couldn't bord. At first I was mad about it, as I didn't have too much money with me, plus still all my things and a job in Prague. Looking back on it now I'm quite happy though. At least I'm spending the confinement with the person I love most and otherwise we night not have seen each other for months.

We went out that night wanting to go to a bar. I remember that everyone including us was still thinking that it won't be taken too seriously. But then we arrived at the bar at 12 AM and they were actually closing down. The police even arrived to make sure everyone is leaving the bar and sent people home. (on a side not we random ran into a high-school friend of Maria from back in Portugal and ended up on a pretty cool home party :P). Funny enough I wasn't bothered too much by the measures at first, but rather enjoyed the time I got to spend on my relationship and reflecting upon myself. Now that we're almost 2 months into the state of emergency, I start craving a beer on tap in a bar, dancing on a rave or just the social contact. Also what really makes me sad is all festivals this summer being canceled. My girlfriend and I have a house with garden though, which makes it much more bearable than sitting in a studio apartment together, as some of my friends do.

My fears for the future are that we for one will go to a huge financial crisis and period of recession after this.

Plus it will make many small businesses shut down and further manifest the monopoly of big companies and multinational corporations.
Overall it will cause the distribution of wealth to be even more unequal than it already is and mostly the poor will suffer from the aftermath.

Jeremy Zeh


🇧🇷 Português

As medidas adotadas aqui na Bélgica foram similares às da Alemanha e outros países europeus. Cheguei aqui no início de março e, no dia seguinte à noite que deveria voltar para Praga, entrariam em vigor as medidas de isolamento, a partir da meia-noite. Meu voo seria tarde da noite e, uma vez que eu chegaria depois da meia-noite, não tive permissão para embarcar. No início, fiquei bravo com a situação, pois não tinha muito dinheiro comigo, além de ter deixado todas as minhas coisas e meu trabalho em Praga. Ao menos, estou passando a quarentena com a pessoa que mais amo, caso contrário, não seria possível nos vermos por meses.

Naquela noite mesmo, saímos para ir a um bar. Lembro que todo mundo, inclusive eu e minha namorada, ainda achávamos que a situação não seria levada tão a sério assim. Mas, quando chegamos no bar à meia-noite, eles já estavam fechando. A polícia chegou até mesmo a ir ao local para garantir que as pessoas saíssem do bar e fossem para casa. O engraçado é que, no início, eu não estava muito incomodado com as medidas, pois até gostei do tempo que consegui para investir na minha relação e refletir sobre mim mesmo. Agora que estamos há quase dois meses de estado de emergência, começo a sentir vontade de tomar um chope no bar, dançar em alguma rave ou simplesmente do contato social. O que também me deixou muito triste foi o cancelamento de todos os festivais deste verão. Apesar disso, eu e minha namorada temos uma casa com jardim, o que faz com que tudo seja mais suportável do que sentar juntos em um apartamento, como é o caso de alguns amigos.

Meu receio para o futuro é de que vamos entrar em uma enorme crise financeira e um período de recessão depois de tudo isso. Além de fazer com que várias lojas de pequeno porte fechem e aumente o monopólio das grandes empresas e corporações multinacionais. No geral, fará com que a distribuição da riqueza seja ainda mais desigual do que já é e, principalmente, os pobres sofrerão com as consequências.

Jeremy Zeh


Cabo Verde


Nataniel Mota, Praia


🇨🇻 Português

Quando essa Pandemia começou, ficamos vendo pela mídia e ninguém se preocupava com nada. Mas eu sabia que terdo ou cedo chegaria aqui, porque, somos um país que vive de Turismo.

Acabou por chegar aqui por um casal de Ingleses, idosos, e uma Holandesa, também idosa. A única morte que temos aqui por causa de Corona Vírus é o Inglês. A esposa e a Holandesa, que ficaram num Hotel na Boavista infetaram os funcionários que acabou por espalhar pra ilha toda. Agora, na Ilha da Boavista são 53 casos, um óbito e um recuperado.

O Governo foi inteligente em fechar as fronteiras entre as ilhas e com o exterior (atrasado na minha opinião), mas, deixaram pessoas que estavam fora à trabalho voltarem pra cá e os casos começaram a aumentar.

Agora temos 109 casos, 2 recuperados e um óbito.

Cabo Verde é um país de população jovem, então, muitas pessoas que trabalham informalmente estão sem trabalho, sem dinheiro, passando sérias dificuldades, e o Governo não consegue ajudar todos. Mas o povo caboverdiano é solidário e tem muitos grupos que estão ajudando as pessoas mais pobres também, como o meu (que te enviei as fotos).

Hoje as ilhas que não têm casos voltaram à normalidade, foras às aulas, as escolas continuam fechadas. As ilhas de São Vicente, Boavista e Santiago continuam em quarentena até dia 2 de maio (são as ilhas que têm casos).

Eu, pessoalmente, sofro demais com essa quarentena, porque, não gosto de ficar em casa, de socializar e agora isso é bem complicado! Mas sei que passaremos por isso em breve, até pra vc vir conhecer Cabo Verde...hehe.

Sou da Ilha de Santo Antão, quando voltei do Brasil, fui pra casa dos meus pais em Santo Antão e fiquei lá por um ano, mas, como lá não tem muito trabalho pra quem é formado, decidi vir pra Capital – Praia. Quando cheguei, um amigo me levou na Mercearia, que é bar também (você sabe como gosto de um bar, kkk). Gostei dos donos, me acolheram também, e, hoje somos super amigos. O Alexandre e a Natalia (os donos) um dia me confrontaram com a ideia de fazer cestas básicas para distribuir para as pessoas que realmente necessitam, mas, eles queriam sem apoio nenhum. Então eu comecei a pedir pros clientes fiéis, que são meus amigos também, e, nisso de 10 cestas básicas viraram 25 em menos de 2 horas. Entregamos semana passada, ontem também entregamos, porque muitas pessoas quiseram fazer parte do gesto. A Polícia nos envia um carro com 2 policiais pras pessoas não nos atacarem.

Queremos fazer mesma coisa próxima semana, e mesmo quando a pandemia passe, porque tem gente que necessita mesmo. Quem nos puder ajudar, agradecemos! Pode ser ajuda de 1 Euro, será muito bem vindo. Só não queremos de quem quer fazer “publicidade de bondade”. Ninguém sabe o nosso nome, aliás, nem temos. Ajudamos por ajudar, não queremos servir de manchetes de jornais nem de TV.

Nataniel Mota

Canadá (Kanada / Canada)


Lisa Letzkuss


🇬🇧 English (Tradução para o português abaixo)

Canada and Germany react and behave very similar in this crisis. The government shut down institutions and public spaces quite quickly and it looks like the isolation will go on till end of June, at least as of right now. It means that I wont be able to go back to school before the summer break. We are still allowed to do grocery shopping but only by yourself and only 5 people at a time can enter the store, and you have to keep distance at all times. We are still allowed to go out for walks and runs but we can't gather anywhere. The government is helping out people financially whether that is to help you pay your rent or to still receive 80% of your income without being able to go to work (similar to Kurzarbeit). Canada has, similarly to Germany, a social welfare that is supporting a lot of people at the moment and the health care system is also managing ok compared to the US or other countries. Brendan and I are very lucky as our jobs are still important and relevant to society, so we both work from home and we actually enjoy having to commute less and being able to spend more time for healthy cooking etc. I teach online and it is so important to give students a routine and structure right now. We see each other online and I teach more kids yoga classes via Zoom these days. Kids need tools on how to keep their busy minds still and how to train their mind and keep a mental hygiene more than ever. And they really enjoy it, suck it up and open up to me. I feel more important than ever, since I also have conversational classes with old people and they really crave for conversations. So we have extended this program as well. 

In Canada, like everywhere else in the world as I imagine, there are two kinds of people. The first group stays optimistic and doesn't loose trust and hope in a better world. These people are very creative now and start to serve the neighborhood and make art. We have received and offered a lot of letters and oral offers of help from and to neighbours. We are starting to get to know our neighbours very well and its so wonderful. I had a 2-hour chat with my neighbour last Monday and she even gave me some kids yoga material as a present and I help her walk her dog. Lots of people are baking more, so it is hard to get flower. We have a very uplifting sign in our street and lots of kids are drawing hearts and rainbows on the windows. Neighborhoods are starting to do music together every day and people dream and imagine a better and changed world after this. I belong to the first group and I enjoy my new, more quiet routine since it feels less stressed and hectic. You might interact with less people, but the interactions feel more real, and deep, and true. I experience a huge income of creativity. I journal everyday, I do yoga and breath work everyday, I meditate everyday, I spend time in nature everyday, and I have become very creative lately, and I have a lot of energy and I really feel needed and feel like a live my purpose more than ever, especially with the kids yoga classes. 

The second kind of people are frozen in a state of fear and panic and they increase this fear by over-consuming the news or horror movies everyday. These are the people that start shouting at you in the line and that might become sick (not from the virus) just from the panic as the immune system gets weakened by fear. It is good to be careful these days and wash your hands, but some people wear several masks, full body protection and gloves, and you can see their fear in their eyes from a distance. They are stuck in this state and can't imagine a better future. They feel a lack of everything in their lives and they don't treat themselves or others well, which ultimately means they don't attract anything good into their lives.

Fear is a normal and important emotion and reaction to the situation since there is a real threat, and we wouldn't be alive if we never felt fear, however, it is extremely unhealthy to live in a constant state of fear. It will def weaken your immune system and general health. I recommend people taking good care of their physical and mental routine (cleaning your body and your mind likewise), eating healthy, fresh air, movement, drawing, making music, doing whatever it is that makes you feel better. I personally started a living room party every day at 9 pm, and for one hour everyday I do something that brings complete joy into my life. Joy has a much higher frequency and is so good to feel these days. Sometimes I have a dance party with friends over Zoom, sometimes I meditate, play the Ukulele or paint. It can be anything that brings joy to your life. Another important practice that I do is my gratitude practice. Every night before going to bed I write down what I was grateful for this day and for the weekly highlight we keep a gratitude jar.

Helping and serving people in any way you can is also very uplifting and powerful. I like seeing how old and young people show a lot of solidarity to each other. I think the current state of the world being literally unhealthy from in and outside, being littered and having a virus spreading around reflects the inner state of mind of most people. We think bad thoughts everyday that spread like a virus and we don't treat each other well with our thoughts. It is time to use this forced slowed-down time to heal ourselves from the inside, to shift towards more respectful and positive thoughts towards us and everyone else and the planet. Mama earth is a good evidence of how quickly things can recover and heal so let's start with ourselves right now.

All the best 
Lisa

🇧🇷 Português

O Canadá e a Alemanha reagem e se comportam de maneira muito parecida nesta crise. O governo (canadense) fechou instituições e espaços públicos com bastante rapidez e parece que o isolamento vai durar até o fim de junho – ao menos (é a previsão) por agora. Isso significa que não posso voltar para a escola (para dar aulas) antes das férias de verão. Ainda estamos autorizados a sair para fazer compras de supermercado, mas  sem acompanhante e apenas 5 pessoas por vez podem entrar na loja, sempre mantendo distância uns dos outros. Podemos sair para caminhar ou correr, mas não nos reunirmos em lugar nenhum.

O governo está ajudando as pessoas financeiramente, seja para ajudar a pagar seu aluguel, seja continuar a receber 80% do seu salário sem precisar ir ao trabalho (isto é similar ao Kurzarbeit na Alemanha, que é trabalho de jornada reduzida e adotado principalmente em períodos de crise econômica). O Canadá tem, assim como a Alemanha, um sistema de bem estar social que está prestando apoio a muitas pessoas no momento e o sistema de saúde também está lidando bem com a situação se comparado aos Estados Unidos e outros países. Brendan e eu temos muito sorte já que nossos empregos ainda são relevantes para sociedade, então nós trabalhamos de casa e, na verdade, estamos gostando do fato de nos deslocarmos menos e termos mais tempo para fazer comidas saudáveis etc.

Eu dou aulas online e é muito importante oferecer aos estudantes tanto uma rotina quanto uma estrutura neste momento. Nós nos vemos online e estou dando mais aulas de yoga para crianças via Zoom. Crianças precisam de ferramentas que as ajude a acalmar suas mentes agitadas, a treinar sua mente e manter a higiene mental como nunca antes. E elas realmente gostam, aguentam a situação e se abrem comigo. Me sinto importante mais do que nunca, pois também tenho aulas de conversação com pessoas idosas e elas realmente anseiam por uma conversa. Entao, ampliamos este programa também.

O Canadá tem, e imagino como no resto do mundo, dois tipos de pessoas. O primeiro grupo permanece otimista, não perde a confiança e a esperança de um mundo melhor. Essas pessoas estão muito criativas agora e começaram a prestar serviços na vizinhança e a produzir arte. A gente tem recebido e distribuído um monte de cartas e feito ofertas boca a boca entre nossos vizinhos. Comecamos a conhecer nossos vizinhos bem melhor e isto é maravilhoso. Segunda-feira passada conversei por duas horas com minha vizinha; ela inclusive me deu alguns materiais de yoga para crianças de presente e eu a ajudo passeando com o cachorro dela. Um monte de gente está fazendo mais bolos e massas, logo é difícil encontrar farinha. Na nossa rua, temos um cartaz bastante motivador e várias crianças desenham corações e arco-íris nas janelas das suas casas. Os vizinhos começaram a fazer música juntos todos os dias e as pessoas sonham e imaginam um mundo melhor depois que isso acabar. Eu pertenço ao primeiro grupo e gosto da minha nova, mais sossegada rotina já que me traz a sensação de ser menos estressante e agitada. Você pode até interagir com menos pessoas, mas essas interações parecem mais reais, profundas e verdadeiras. Estou vivenciando um nível grande de criatividade. Todos os dias, escrevo um diário, pratico ioga e técnicas de respiração, medito, passo tempo na natureza e me tornei bastante criativa nos últimos tempos; estou cheia de energia e me sinto realmente útil, no sentido de estar vivendo meu propósito mais do que nunca, especialmente nas aulas de ioga para crianças.

O segundo grupo de pessoas está preso em um estado de medo e pânico; elas alimentam esse medo consumindo notícias ou filmes de terror todos os dias. Estas são as pessoas que começaram a gritar com você nas filas e que podem ficar doentes (não do vírus, mas do pânico) já que seu sistema imunológico fica enfraquecido por conta do medo. É bom tomar cuidado hoje em dia e lavar as mãos, mas algumas pessoas colocam várias máscaras, vestem roupas de proteção de corpo inteiro e luvas. Você consegue avistar o medo em seus olhos de longe. Elas estão presas neste estado e não conseguem imaginar um futuro melhor. Sentem falta de tudo em suas vidas, não tratam a si mesmas ou aos outros bem, o que, no final das contas, não atraem nada de bom para suas vidas.

Medo é uma forma de sentimento e reação normais e importantes já que existe uma ameaça real. Nós não estaríamos vivos se jamais sentíssemos medo, porém é extremamente prejudicial viver em um estado de terror constante. Isso com certeza irá enfraquecer seu sistema imunológico e sua saúde em geral. Recomendo às pessoas que cuidem bem da sua rotina mental e física (limpando o corpo e a mente na mesma proporção), comam alimentos saudáveis, respirem o ar puro, se locomovam, desenhem, façam música – o que quer que seja que as faça se sentirem melhor. Eu particularmente criei o que chamo de “festa no sofá” todos os dias às 9 da noite. Por uma hora, faço algo que traga felicidade plena para minha vida. Felicidade tem uma frequência muito mais alta e é muito boa de se sentir esses dias. Às vezes, faço uma festa para dançar com amigos pelo Zoom, outras medito, toco ukulele ou pinto. “Festa no sofá” pode ser qualquer coisa que traga felicidade para sua vida. Outro hábito importante que tenho é a prática de agradecer. Todas as noites, antes de ir pra cama, escrevo sobre as coisas pelas quais sou grata que aconteceram durante meu dia e temos um pote onde depositamos os acontecimentos mais importantes da semana.

O ato de de ajudar e servir as pessoas, não importa como, é muito edificante e poderoso. Gosto de ver como as pessoas, velhas ou jovens, mostram tanta solidariedade entre si. Acredito que a situação atual do mundo, literalmente doente por dentro e por fora, sendo poluído e com um vírus se espalhando por aí reflete o estado de espírito da maioria das pessoas. Nós temos pensamentos ruins todos os dias que se propagam como vírus e não tratamos uns aos outros bem com esses pensamentos. É hora de usarmos esse tempo de desaceleração forçada para nos curarmos de dentro pra fora, para mudarmos em direção a termos pensamentos mais positivos e respeitosos com nós mesmos e todos os outros no planeta. A mãe Terra é uma boa evidência de quão rápido as coisas podem se recuperar, então vamos começar com nós mesmos agora.

Tudo de bom,
Lisa


Chile


Daniel Diaz, Valparaíso


🇨🇱 Español (Tradução para o português abaixo)
Tradução: Danielle Lima

Todo esto partió el día 15 de Marzo. Ese día fue el día en que Chile empezó a darse que esto realmente había llegado a Chile. Mi trabajo es el área del Comercio Internacional, ser el intermediario entre Aduanas y la Compañía Importadora. Debido a esto, todo el sistema aduanero funciona en papel, timbres y fax. Totalmente incompatible con la situación que se acercaba. 

El día Lunes 16 de Marzo comenzaron las recomendaciones de quedarse en casa y tratar de hacer teletrabajo. Tenía agendada una reunión en Santiago de Chile hace más de un mes y no podía reagendarla. Realicé el viaje de 1 hora y media a Santiago y me dí cuenta que todas las compañías High Tech de dónde tenía la reunión se habían acogido al teletrabajo, sin embargo, las compañías más pequeñas funcionaban igual. Fue lento el despertar.

Yo vivo y trabajo en Valparaíso, que es el puerto principal de Chile, pero no es la capital. Santiago de Chile es la ciudad con más contagios, no obstante, las otras regiones de Chile no han habido muchos contagios. Chile no ha declarado y no va a declarar Cuarentena Total. El Gobierno de Chile ha tomado una doctrina de testear mucho más, de ser posible testear a toda la población, y las cuarentenas son focalizadas en las “Comunas” que son gobierno local de cada ciudad. Hasta el Momento, no se ha declarado cuarentena total en mi ciudad, pero sí se recomienda quedarse en su casa.

Hasta el momento mi jefe que ya tiene cerca de 70 años de edad era contrario a trabajar desde casa porque le gusta controlar a sus empleados y desde la casa no lo podría hacer. El 27 de Marzo, Aduanas emitió una Resolución que obligaba a los trabajadores colaboradores con Aduanas a trabajar desde Casa. Solo ahí nuestro jefe nos dejó trabajar desde casa. Pero como el sistema Aduanero es arcaico, no se puede hacer todo.

Actualmente estoy yendo cada dos días a la oficina por el problema del sistema de aduanas, además me he dado cuenta que mi productividad en la casa es muy poca. Así que los días en la oficina los aprovecho al máximo.

En Santiago es otra historia, porque las cuarentenas partieron en los lugares de gente con más dinero y no acataron mucho la cuarentena al principio, pero tuvieron que enviar a las fuerzas armadas a reforzar el toque de queda nocturno para que recién comenzaran a acatar.

Daniel Diaz


🇧🇷 Português

Tudo teve início no dia 15 de março. Foi nesse dia que o Chile começou a se dar conta de que a epidemia tinha chegado aqui. Trabalho na área de Comércio Internacional, intermediando as Alfândegas e a Companhia de Importação do Chile. Todo o sistema alfandegário funciona por meio de documentos, carimbos e fax – algo totalmente incompatível com a situação que se aproximava.

Na segunda-feira, 16 de março, foi quando começaram as recomendações para ficar em casa e fazer home office. Eu tinha uma reunião agendada em Santiago do Chile há mais de um mês e não podia reagendá-la. Fiz uma viagem de 1 hora e meia até Santiago e me dei conta de que todas as empresas High Tech onde eu tinha reunião tinham adotado home office. Contudo, as empresas menores estavam funcionando normalmente. A ficha demorou para cair.

Moro e trabalho em Valparaíso, onde fica o principal porto do Chile, embora não seja a capital. Santiago é a cidade com maior número de contágios, mas não houve muitos casos em outras regiões do país. O Chile não declarou e nem vai declarar quarentena plena. O governo adotou a medida de fazer muitos testes de diagnóstico para possibilitar testes em toda a população, e os confinamentos estão concentrados nas “Comunas”, que são os governos locais de cada cidade. Por enquanto, não foi declarada quarentena total na minha cidade, mas a recomendação é para ficar em casa.

Até agora, meu chefe, que já tem uns 70 anos, era contra home office, porque ele gosta de controlar seus funcionários, o que não seria possível a partir de casa. Em 27 de março, a Alfândega emitiu uma resolução que obrigava todos os funcionários alfandegários a trabalharem de casa. Somente assim nosso chefe liberou o trabalho à distância. Porém, como o sistema alfandegário é arcaico, então não tem como fazer de tudo.

No momento, estou indo para o escritório a cada dois dias, por causa do problema do sistema das alfândegas; além disso, percebi que minha produtividade em casa é muito baixa. Então, tenho aproveitado o tempo no escritório o máximo que posso.

Em Santiago, a história é outra porque a quarentena começou em locais com pessoas mais ricas, que, no início, não acataram muito a ordem. Tiveram que enviar as forças armadas para reforçar o toque de recolher noturno - foi aí que meio que começaram a respeitar.

Daniel Diaz


Monse Ramírez, Santiago


🇨🇱 Español (Tradução para o português abaixo)
Tradução: Danielle Lima

Había leído la palabra coronavirus  en enero de este año, sabía que causaba una especie de refriado o algo así. Tres semanas después significada adoptar todo un plan de acción para evitar el contagio de una enfermedad fatal. Al menos eso hicimos en mi trabajo y en casa, siguiendo recomendaciones de la OMS y usando sentido común, algo que, dicho sea de paso,  el gobierno de Chile parece no tener. 

Si te lo propones y tienes los recursos puedes hacer una buena cuarentena, personalmente hemos utilizado delievery para todo, frutas, medicamentos, hasta artículos deportivos para poder mantenernos activas en casa y no caer en la locura. No es tan difícil programar las compras y no hay tanta demora en los despachos.  

Por otro lado, a pesar de lo rápido que ha crecido la curva y los ejemplos de países europeos que no tomaron las precauciones necesarias, las autoridades de nuestro país parecen más preocupadas por hacernos trabajar para mantener la riqueza de los más poderosos en lugar de cuidar la vida de su pueblo. En nuestro caso personal mi mamá debe seguir trabajando, es muy complejo ya que en el lugar donde vivo no tenemos locomoción colectiva hace dos semanas porque los conductores están en paro indefinido debido a la poca ganancia y falta de seguridad. Esa es la situación de millones de compatriotas que no pueden hacer cuarentena y no porque trabajen en sectores de primera línea como salud o servicios básicos, sino porque si no trabajan no comen.

El ministro de salud ya tenía poca credibilidad desde nuestro estallido social en octubre del año pasado, y cada vez que da comunicados oficiales aumenta la cifra de desaprobación, sobre todo porque están contabilizando a los fallecidos como personas recuperadas.

 No es fácil confinarte en tu casa de un día para otro, sobre todo cuando salir de ella puede costarte la vida, es angustiante no poder ver a tus seres queridos porque eso inclusive podría significar un “asesinato” por irresponsabilidad. 

Así fue como una palabra que me parecía tan lejana, una gripe que pensé tan inofensiva cambió la vida como la conocía, de un día para otro.

Monse Ramírez


🇧🇷 Português

Eu tinha lido a palavra "coronavírus" em janeiro deste ano, mas só sabia que isso causava algum tipo de resfriado ou algo assim. Três semanas depois, significava adotar todo um plano de ação para evitar o contágio com uma doença mortal. Ao menos no meu trabalho e na minha casa seguimos as recomendações da OMS e usamos nosso senso de coletividade, algo que, a propósito, o governo do Chile parece não ter. Se lhe impõem essas recomendações e se você tem os recursos para segui-las, é possível passar por uma boa quarentena. Pessoalmente, temos usado serviços de entrega para tudo: frutas, remédios, até mesmo materiais de esporte para podermos nos manter ativas em casa e não acabarmos enlouquecendo. Não é tão difícil fazer as compras remotamente e as entregas não demoram muito.

Por outro lado, não obstante o rápido crescimento da curva e dos exemplos de países europeus que não tomaram as devidas precauções, as autoridades de nosso país parecem mais preocupadas em nos fazer trabalhar para manter a riqueza dos mais poderosos ao invés de cuidar da vida de seu próprio povo. No nosso caso especificamente, minha mãe tem que continuar trabalhando e isso é muito difícil já que onde moro não temos transporte público há duas semanas: os motoristas estão em greve por tempo indeterminado por causa do salário baixo e da falta de segurança.

Essa é a situação de milhares de compatriotas que não podem estar em quarentena, não porque trabalhem em setores da linha de frente, como saúde ou serviços básicos, mas porque se não trabalharem, não têm o que comer.

O ministro da saúde já tinha pouca credibilidade desde nossos protestos sociais, em outubro do ano passado, mas toda vez que ele que faz algum pronunciamento oficial, seu índice de reprovação aumenta, sobretudo porque estão usando os números de mortos como os de pessoas que se recuperaram da doença.

Não é fácil ficar confinado em casa de um dia para o outro, principalmente quando sair pode te custar a vida. É angustiante não poder ver pessoas queridas porque isso poderia, inclusive, significar um “assassinato” por irresponsabilidade.

Foi assim que uma palavra que me parecia tão longínqua, uma gripe que achava ser tão inofensiva, mudou a vida como a conhecíamos de um dia para o outro.

Monse Ramírez


Colômbia (Kolumbien / Colombia)


José Bohorquez Anaya


🇨🇴 Español (Tradução para o português abaixo)

En Colombia estamos en cuatentena hasta el 27 de abril pero seguramente van a extenderla porque no hay garantias para mantener a la población sin enfermarse.

Las cosas acá, por lo menos a modo personal estan tranquilas aunque debo reconocer que hay mucha gente que pasa mucha necesidad por la falta de empleo. Mucha gente que trabajaba todos los dias, no tienen ahora como conseguir dinero porque simplemente no se puede salir.

Ha sido duro para muchas personas para otras no tanto, cad quien vive su realidad de manera diferente.

José Bohorquez


🇧🇷 Português

Na Colômbia, estamos de quarentena até 27 de abril, mas com certeza vão prorrogá-la porque não há garantias de manter a população confinada sem estar doente.

As coisas por aqui, pelo menos do ponto de vista pessoal, estão tranquilas, embora devo reconhecer que tem muita gente que passa muita necessidade pela falta de emprego. Muita gente, que trabalha por diária, não tem como ganhar dinheiro agora porque simplesmente não pode sair de casa.

Tem sido muito duro para algumas pessoas, para outras nem tanto. Cada qual vive sua realidade de maneira diferente.

José Bohorquez


Costa Rica


Gabriel Villegas


🇧🇷 Português

A América Central é uma região muito homogênea em muitos aspectos. Se compartilha a mesma língua, a mesma história colonial, uma configuração de crenças religiosas muito similares, climas e paisagens muito semelhantes. No caso da combate contra o novo COVID-19, esta homogeneidade não é tão clara.

Na região centro-americana, a curva de contágios é relativamente baixa com relação a outros países. As publicações oficiais mostram um aumento quase linear do número de infectados, sendo que a doença avança de maneira exponencial na maioria dos países, tendo a Europa como um dos exemplos.

A Costa Rica foi reconhecida pelas Nações Unidas pela sua gerência durante a pandemia e sua boa coordenação por parte do sistema nacional de saúde, a produtora nacional de álcool, e do sistema de correios nacional para manter a taxa de mortalidade baixíssima. Da mesma maneira, o presidente de El Salvador tem chamado atenção internacional pela sua severidade, rigor e atração popular.

Cheguei da Europa para passar duas semanas de férias na Costa Rica, as quais se transformaram em quase dois meses. O meu voo de volta foi adiado, mas ainda espero com o coração na mão que eu possa voltar e continuar meus estudos. A faculdade provavelmente será o semestre todo “online”. Minha mãe é professora de ensino médio. Ela ainda tem trabalho e também teve que adaptar seus cursos. A verdade é que meu drama não é nada comparado com o que outras pessoas possam estar passando. Não posso imaginar como seria viver de trabalho informal e ter que fechar por 3 meses ou morar na rua e estar constantemente exposto.

Contudo, para a grande maioria da população, talvez as únicas mudanças que têm significado um impacto direto no cotidiano são o fechamento de comércios, o trabalho de casa (home office) e as restrições de trânsito. O região que já é economicamente frágil, está caindo a níveis ainda mais vulneráveis. Porém, há uma percepção geral de satisfação com as administrações públicas. Talvez haja uma noção de que a região vai sair desta crise logo e que estamos em baixo perigo. O Ministro de Saúde da Costa Rica tem virado sensação na internet pela sua boa gestão durante esta crise e o Ministério do Trabalho está tentando implementar medidas muito positivas de subsidio econômico para aquelas pessoas que têm sido afectadas pela doença (“Plan Proteger”). Posso supor que este tipo de notícias tem feito que a população não tenha a mesma percepção da doença que a população italiana, chinesa ou estadounidense. Nesta crise, a grande maioria tem se mostrado muito empática e responsável pela sua própria saúde e pela vida dos outros.

Sempre há pontos negativos que vale a pena mencionar e que e emergem de analisar o papel de um presidente como o nicaraguense Daniel Ortega e das suas relações com o resto da região. Em meio aos esforços centro-americanos para lidar com o COVID-19, oficialmente Panamá é o país mais afectado. As outras nações apresentam números bastante esperançosos. Porém, Daniel Ortega brilha pelas suas decisões contra-intuitivas e pela ausência da sua gestão. Para o mês de abril, a presidência da Nicarágua não só decidiu não impor quarentena nem restrições de fronteira, mas também convocou a manifestações públicas e outros atos multitudinários (com grande número de pessoas). Mesmo que pregando ideologias absolutamente opostas (no espectro político), Ortega e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, têm atuado com a mesma imprudência ou má-intenção, contradizendo diretamente as recomendações de instituições supranacionais. Uma vez mais, fica claro como há presidentes ineptos tanto na “esquerda” quanto na “direita”.

Nicarágua tampouco tem sido capaz de oferecer dados claros com relação às estatísticas. Um aumento bizarro de “estranhas doenças respiratórias” acontecem ao mesmo tempo que o presidente registra só 3 afetados, enquanto um relatório para o Banco Interamericano de Desenvolvimento e para a Organização Mundial da Saúde projeta mais de 30 mil infectados e 800 mortes para os próximos 6 meses. Acusações similares têm sido dirigidas ao presidente salvadorenho Nayib Bukele, quem se gaba do bom desempenho do país enquanto outros apontam que os números não são claros e que simplesmente não há capacidade verdadeira de ter um registro real do impacto do vírus. Posso imaginar que, na verdade, este tipo de cenário seja verdade em quase todo país “em via de desenvolvimento” como também para alguns países desenvolvidos.

Há uma percepção popular que esta atuação de Daniel Ortega põe em perigo a saúde e a integridade dos outros países de região. Tendo fronteira com Nicaragua, Costa Rica decidiu fechar a passagem de imigrantes, mas o pior é uma onda de xenofobia que emergiu nas redes sociais de contas e grupos costarriquenses. As relações tanto políticas como sociais entre Costa Rica e Nicaragua têm sido historicamente complicada, e esta época é reflexo destas tensões.

Os primeiros infectados que trouxeram o vírus para Costa Rica foram estadounidenses, estrangeiros que foram tratados e curados pelo sistema público de saúde. Ninguém reclamou, o país defendeu a vida dos culpáveis pela introdução do vírus no país e o sistema cumpriu a universalidade dos seus serviços de saúde. Depois que a presidência decretou proibida a entrada de nicaraguenses no território nacional, uma nicaraguense grávida e portadora do vírus, foi atendida no sistema público. Nesta ocasião, o costarriquense conservador comum se apressou em dar amostra da sua xenofobia seletiva. As redes sociais se encheram de “cidadãos de bem” reclamando de "como era possível que Costa Rica tivesse que bancar a irresponsabilidade do vizinho do norte". Estes eventos aconteceram justo na época da Semana Santa. Costa Rica é ainda um dos poucos países confessionais do mundo, sendo o Catolicismo a religião do Estado. É precisamente neste país católico e nesta semana de celebração Cristã que muito costarriquense demostrou que é “pro-vida” até que a grávida seja pobre, doente, e nicaraguense.

Gabriel Villegas

Espanha (Spanien / Spain)


Letícia Gomes, Barcelona


🇧🇷 Português


Tudo começou numa quinta-feira à noite, 12 de março. Naquele dia, eu tinha feito uma entrevista de trabalho e estava super animada, abri o grupo de WhatsApp do meu mestrado e vi umas mensagens falando para a gente se preparar (algumas pessoas com quem eu estudei têm parentes na elite política catalã).

Eu falei para o meu namorado, que estava trabalhando desde casa, para a gente ir para o supermercado e se preparar para ficar duas semanas sem sair de casa. Quando fomos a compra parecia o filme Guerra Mundial Z. Todo mundo desesperado e faltando várias produtos.

O governo espanhol decretou o estado de alarme no sábado, mas as pessoas aqui não levaram a sério, principalmente os madrilenhos. Muitas pessoas continuaram indo a parques, bares, restaurantes, e muitos dos que viviam em Madri, decidiram viajar à costa. Foi assim que o vírus se espalhou mais na Espanha.

Na segunda-feira, o governo decretou que quem saísse de casa sem uma boa justificativa estaria sujeito a multa e, dependendo da situação, até a prisão.

Só em Barcelona, na primeira semana do estado de alarme, foram multadas e presas mais de 1000 pessoas. Eu mesma vi da janela do meu apartamento 4 pessoas serem levadas pela polícia.

Aqui em Barcelona a Generalitat (governo catalão) aconselha que quando saiamos de casa baixemos um documento de responsabilidade, atestando aonde vamos e mostrando a rota a ser feita.

No geral, a maioria dos espanhóis levaram a sério desde o primeiro momento, mas as várias pessoas que não obedeceram levaram a Espanha a um estado de calamidade sanitária.

As primeiras três semanas foram muito difíceis. As notícias de novos infectados e mortos diários me levaram a ter muita ansiedade, e por isso, faço terapia pela internet que o meu seguro de saúde providenciou para a crise. Eu acho que foi uma das piores coisas que já vivi. Acho que ninguém pensou que seria tão duro como foi/tá sendo. Mas, graças a Deus, pouco a pouco está melhorando.

Eu acho que a Espanha pagou um preço demasiado caro por não estar preparada. A vida em Barcelona já não é a mesma. É muito esquisito ver uma cidade que era tão cheia de vida tão parada. Eu moro em uma zona bem central, e o clima feliz da cidade deu lugar a um clima de apreensão e medo. É bem triste ver Barcelona assim.

Mas o povo espanhol têm um grande sentido de comunidade; é uma felicidade que tá no DNA. Eles cantam muito das varandas dos apartamentos, fazem festas nos bairros (sem sair de casa), e até os policiais passam às vezes cantando e contando história para as crianças. Todo dia às 20h se batem palmas em homenagem aos profissionais de saúde.

Quem não respeita a quarentena é muito mal visto. As pessoas xingam, e há relatos de que se jogaram frutas e água a quem passeava na rua. Aqui o bem coletivo é o mais importante.

Nos supermercados as pessoas estão respeitando a distância, há um controle no número de pessoas, só se entra com máscara e luvas, e tem que desinfectar as mãos na entrada.

A quarentena aqui está programada para durar, oficialmente, mais um mês. Mas para ser honesta, acho que até junho não sairemos de casa. E quando o fizermos, será com muitas limitações. Até que se encontre uma cura ou uma vacina não voltaremos a ser os mesmos.

O que menos queremos é uma segunda onda que seja mais agressiva, como em outras pandemias.

Letícia Gomes


Vitor Schietti, Madri


🇧🇷 Português

Distrações. Temos muitas distrações à disposição, e nos orgulhamos de dizê-lo. Soa muito mais divertido dizer que vou me distrair que vou me concentrar. Participamos da criação de uma sociedade que destaca os prazeres sensoriais e os transformam de pecados em virtudes. Essa frase por si só pode parecer pedante, soa como se pertencesse ao âmbito religioso, pode passar-se por dogmática. Mas é isso: o erro travestiu-se de acerto, e todos acreditam. Consumo, logo existo. Funcionamos em regime de consumismo. Melhor dar nome certo às coisas, relacioná-lo mais diretamente com nossos hábitos diários de consumo. Capitalismo é um termo muito amplo, quase abstrato. Consumismo é cada um, sou eu, é você. Li em algum lugar na web “engraçado que o sistema está colapsando porque as pessoas estão comprando apenas o que necessitam”. É engraçado, e trágico, e a mais evidente e ainda assim ignorada verdade. O sistema colapsa se não o alimentarmos, e em seu lugar, construimos outros sistema, melhor se assim quisermos que seja.

Enxergar o problema e assumir fazer parte dele é o primeiro passo numa outra direção, a da resolução. O que consumimos, e quanto consumimos diariamente é nosso maior ato político e nossa maior responsabilidade. É também nosso maior poder, queiramos admiti-lo ou não. Querem nos fazer acreditar, e comodamente queremos também acreditar, que é o voto. Pois não é. O que consumimos diariamente mais define as relações de poder que os representantes que elegemos uma vez a cada 4 anos. E por serem justamente diários, e portanto hábitos, uma vez instaurados, são fácies de manter, tanto para o bem quanto para o mau. Daí a importância de nos perguntarmos, a cada dia que consumismo todo e qualquer item e serviço. O que consumo é necessário ou é luxo? É um exacerbo ao ego ou é uma ferramenta de aprimoramento pessoal? É fruto de uma filosofia que segrega classes ou que fomenta o comunitário? É um produto ou serviço que obedece relações trabalhistas justas ou semi-escravas? Tem como prioridade emissão de carbono zero e mínimo impacto ambiental, ou dizima florestas tropicais distantes em troca de um de seus ingredientes? É um produto que respeita a vida de outros seres vivos não- humanos habitantes desse planeta, ou que os escraviza, tortura, encarcera, modifica, mutila e mata?

Mas não preste atenção ao veganismo, é coisa de hippie radical. Não se atreva a confrontar o que lhe foi transmitido através de gerações, afinal, nossos ancestrais faziam isso, por isso podemos (devemos!) também fazer. Não questione nossa culinária tradicional, não compare a submissão de animais à escravidão humana (supra-animal?), são completamente diferentes, e acima de tudo, não me venha com esses radicalismos! Que extremista você, deixar de financiar a objetificação de outros seres sencientes por empatia e respeito a eles! Seu radical! E meus filhos? Como você espera que eles cresçam saudáveis? Ah, e francamente, não ouse associar o consumo de carne na China com o covid19, não tem nada a ver uma coisa com a outra! Não, melhor buscar outra distração, rápido! O que tem de série boa estreando na Netflix? Já faço coleta seletiva.

Tenho passado a quarentena em parte assim, pesquisando e escrevendo sobre o veganismo. Desde 2010 vegetariano, prática que eu tardiamente percebi não ser o suficiente, não afastar-se de atos violentos e injustificáveis nem sequer um centímetro, em Janeiro de 2019 eu mudei para o veganismo, ainda levando alguns meses para deixar de abrir pequenas exceções... Levo, portanto, pouco tempo como vegano, e não falo com nenhuma pretensão de autoridade ou de um experiente na causa. Não falo colocando a categoria “vegano" como ser iluminado e responsável em todas esferas possíveis, e muito menos como uma categoria distinta ou distante, mas todo ao contrário, acessível e universal. Falo a partir da empatia por qualquer leitor que ainda não tenha parado para refletir a respeito do que é o veganismo e quem é capaz de relacionar-se com a própria angústia e dor, e à de entes queridos, de conhecidos, de desconhecidos, de outras espécies. O salto não é tão grande, a diferença é mais inventada que real. Falo a partir da empatia.

Vitor Schietti


Estados Unidos (Vereinigte Staaten / U.S.)


Ade Salawu


🇳🇬 English (Tradução para o português abaixo)

Am fine and my family is doing great and I bless God non of my friend or my love once is a victim of the pandemic and I believe you are keeping yourself safe too and my regards to your bf as well. I only watch this on the news. My little bit of concern is what the world will look like immediately this virus have been conquer and fully cured. 

Ade Salawu

🇧🇷 Português

Tô bem e minha família está ótima. Graças a Deus, ninguém dos meus amigos ou entes queridos foram vítimas da pandemia. Eu só assisto sobre isso (pandemia) no noticiário. Meu pouco de preocupação é como mundo vai ficar logo depois que este vírus tiver sido completamente derrotado e curado.

Ade Salawu


Benjamin Diemer, Virgínia


🇺🇸 English (Tradução para o português abaixo)

Hi Jana, I’ll be happy to add my story to your list, if you like. It’s pretty simple. 

I’m extremely lucky. In fact, I’ve been so fortunate so far (virtual knock on wood) that I feel kind of guilty. I think of all of my friends who are still waiting tables, tending bar, teaching English… My job told me to go home and is still paying me. My wife has always worked from home (she is a translator and most of her clients are in Italy), so there has been no change in her work. Staying home is no hardship for us, since we both have lots of hobbies and we can still get out for morning runs. The only additional responsibility we’ve taken on is to go food shopping for her parents. 

We’re in the Shenandoah Valley, in Virginia. There have been confirmed cases around and there have been losses, but the impact seems pretty limited, so far. Folks here have adapted pretty quickly and really pulled together. A bunch of restaurants shifted over to offering take-out or delivery and a number of shops have done the same. One of the big concerns was that the theater would fail (it’s a big operation and brings in a lot of tourists), but once they got the word out the response was enormous. How the rest of the town will fare is anyone’s guess. We’re a pretty small city, if vibrant, and there are a lot of small businesses. Like the rest of the world, it really depends on the people who have the most. 

The one thing that we don’t have is a national plan. Our elected head disavows all responsibility, while still claiming authority. That is the most frightening thing. Responses to the crisis vary from state to state. You can’t tell how bad the spread is because there aren’t nearly enough testing kits (or labs or scientists). My parents are in New Jersey. I have people in NYC and other hot spots too. Governors are doing their best, but they are receiving conflicting information and little support. Every politician is so busy scrambling to take care of their own constituents that they don’t think about anyone else. What should be our greatest strength has turned into our Achilles heel. 

My one great hope is that we will learn from this and grow stronger. Businesses evolve. People engage with their communities. Families become tighter knit. We recognize the true value of the arts. I hope that following this catastrophe we will learn that we all depend on each other and become just a little kinder.

Benjamin Diemer


🇧🇷 Português

Oi, Jana. Ficarei feliz de acrescentar minha história à sua lista, se você quiser. É bem simples.

Sou extremamente sortudo. Na verdade, tenho tido tanta sorte até agora (batida virtual na madeira) que me sinto um pouco culpado. Penso em todos meus amigos que ainda estão servindo mesas, atrás do balcão do bar, ensinando inglês... Meu empregador me mandou ir para casa e continua me pagando. Minha esposa trabalha desde sempre em casa (ela é tradutora e a maioria dos seus clientes são da Itália), então não houve nenhuma mudança no trabalho dela. Ficar em casa não é uma tarefa difícil para nós, pois ambos temos um monte de hobbys e ainda podemos sair pela manhã para correr. A única responsabilidade extra que assumimos foi a de comprar comida para os pais dela.

Nós estamos no vale do Shenandoah, Virgínia. Foram confirmados casos (de infecção por COVID-19) nas redondezas e vidas foram perdidas, mas o impacto parece bem limitado - até o momento. As pessoas se adaptaram bastante rápido e uniram esforços de verdade. Um monte de restaurante passou a oferecer comida para viagem ou entrega, enquanto várias outros estabelecimentos começaram a fazer o mesmo. Uma das maiores preocupações era se o teatro iria fechar (tem uma operação grande e atrai muitos turistas), mas uma vez que eles divulgaram a situação, a resposta de apoio da população foi grandiosa. Como o resto da cidade se sairá é uma incógnita. Somos uma cidade bastante pequena, mas vibrante, com um monte de pequenos empresários. Tal qual no resto do mundo, toda a situação realmente depende daqueles que têm mais.

A única coisa que não temos é um plano nacional. Nosso chefe de Estado eleito se exime de qualquer responsabilidade ao mesmo tempo em que continua a reivindicar autoridade. As respostas para a crise variam de Estado a Estado. Não dá para dizer quão ruim está a propagação do vírus porque não há kits de teste (ou laboratórios e cientistas) suficientes. Meus pais estão em Nova Jersey. Também tenho parentes em Nova Iorque e outros lugares importantes. Os governadores estão fazendo o melhor que podem, mas eles estão recebendo informações conflituosas e pouco apoio. Todos os políticos estão tão ocupados lutando para cuidar dos seus próprios eleitores que eles não pensam em mais ninguém. O que deveria ser nossa maior força se tornou nosso calcanhar de Aquiles.

Minha maior esperança é que vamos aprender com esta situação e ficarmos mais fortes. O comércio se desenvolve. As pessoas se engajam em suas comunidades. As famílias ficam mais unidas. A gente reconhece o verdadeiro valor das artes. Espero que, após essa catástrofe, possamos aprender que todos dependemos um do outro e nos tornemos um pouco mais gentis.

Benjamin Diemer


Tatiana Postman, Aptos Califórnia


A minha perspectiva é limitada, superficial e privilegiada. Não corro riscos. Moro no meio de uma floresta a dois quilómetros da vila de Aptos, a sul de Santa Cruz, na zona do norte da Califórnia conhecida como Baía de São Francisco. Há dias, o supermercado mais próximo fechou para limpezas por ter tido funcionários diagnosticados com covid-19. Tirando isso, a coisa mais entusiasmante de que soube foi a chegada de uma encomenda pelo correio. O mundo estremece, mas o ar aqui é puro e há silêncio (um luxo). As pessoas das quais gostava em Janeiro continuam vivas e eu, por milagre, continuo a poder gostar delas. Tenho muita sorte.

Desde o início de Março que trabalho a partir de casa. Emprega-me uma empresa de tecnologia no condado de Santa Clara, onde surgiram os primeiros doentes com covid-19 nos Estados Unidos. Antes do coronavírus, trabalhar de casa não era uma possibilidade — a empresa preza muito o sigilo; agora, é a única possibilidade. O trajecto de 61 quilómetros (cerca de duas horas) que fazia até ao trabalho já não é necessário. As minhas manhãs são melhores. Já não acordo, por exemplo, com vontade de me despedir. Durmo bem e tenho tempo para um café e uma torrada. Tenho esperança, como outros, de que as excepções criadas por esta pandemia mostrem ao mundo do trabalho que não é preciso brincar ao faz-de-conta. Não me atrevo a dizer que este mal vem por bem, mas, como disse, tenho muita sorte.

E, por falar em sorte, convém mencionar que vivo na Califórnia, onde, até agora, ainda não marchou ninguém com uma arma e um cartaz a dizer “My body, my choice”, em defesa do direito a ser imbecil. O governador do estado parece ser um homem decente, uma raridade nos dias que correm. Entre prestar apoio monetário aos imigrantes sem documentos (ou ilegais, como ainda lhes chamam), arranjar quartos de hotel para os sem-abrigo e ponderar com cautela os planos de reabertura, Gavin Newsom tem sido exemplar. Num estado com 40 milhões de habitantes, que faz parte de um país cujo presidente é louco — é nestes momentos que se deve apreciar o facto de a língua portuguesa permitir distinguir entre ser e estar —, estas medidas não explicam que o número de casos de pessoas infectadas com o coronavírus seja tão baixo. Suspeito de que a providência tenha sido mais responsável. Temos tido muita sorte.

Tenho amigos e amigos de amigos que perderam o emprego; também tenho familiares e amigos, aqui e na Europa, que ainda saem para trabalhar, uns porque cuidam de outros, outros porque foram considerados imprescindíveis. E tenho amigos que sofrem por outros motivos: uma extrovertida fotossintética que precisa de tomar antidepressivos para lidar com a solidão e os dias passados numa casa escura; um músico que não pode dar concertos e, disse-mo hoje, quer entrar em coma até a pandemia terminar; a minha doce professora de piano, viúva, de 78 anos, que me contou que não é abraçada há seis semanas; um casal que discute todos os dias e para o qual já não há esperança. Pergunto-me se, em certos casos, o vírus não matará com menos eficiência. Pergunto-lhes como estão. Dizem-me que têm sorte.

Temos todos sorte. Os que não têm são, para nós, quase invisíveis. Sei de pessoas que adoeceram, mas também sei da Atlântida e dos Jardins Suspensos da Babilónia. Parece-me tudo estranho, irreal. Eu sei que é verdade, e que os microscópios não mentem, mas é um saber descontente, das velhas e irresolutas questões epistemológicas. O saber é possível? Quando e como sabemos se sabemos? Se soubermos, seremos capazes de comunicar o que sabemos? Enquanto penso e despenso inutilidades, há gente que morre, gente que chora a morte dos que ama, gente que está tão cansada de cuidar dos vivos que já não consegue pensar, gente que pensa demasiado, gente assustada e confusa e, como eu, gente com muita sorte.

Tatiana Postman


Ane Infini


🇧🇷 Português

Meu nome é Ane, brasileira, 32 anos, formada em Administração de Empresas, atleta e coach de Jiu Jitsu.

Há alguns anos, decidi trocar a minha rotina de escritório para investir no esporte que eu amo praticar e ensinar. 

Ano passado, recebi um convite para retornar aos Estados Unidos para treinar, competir e ensinar Jiu Jitsu. Eu já havia passado 6 meses aqui em 2018 pra treinar, competir e aprender a dar aula. 

Os Estados Unidos apreciam muito arte marcial e facilitam vistos para atletas que possuem alto rendimento. Como eu já havia conquistado alguns bons títulos, qualificava para o visto de atleta que me permitiria ficar 5 anos no pais competindo. 

Cheguei em dezembro de 2019. A aplicação para o visto seria para o mês de abril, 90 dias antes de expirar o visto de turista. Estava em treinamento para um dos principais campeonatos do país, o Panamericano, que aconteceria dia 18 de março, era o título que eu estava esperando para fechar meu currículo e fazer a aplicação para o visto de atleta. Não imaginava o que estaria por vir e, então, com o estouro do coronavírus, o campeonato foi cancelado; a escola que faria minha contratação e aplicaria para o visto recebeu uma carta do governo solicitando que fechassem a escola por 30 dias; meu patrocinador e então proprietário da escola me ligou e disse que ele, assim como todos nós, não sabe o que vai acontecer daqui pra frente, pois muitos alunos começaram a cancelar seus contratos. 

Foram dias difíceis, sem saber o que fazer, pois com as fronteiras fechadas, nem se eu quisesse, poderia voltar pro meu país. Com o fechamento das escolas, as crianças estão ficando em casas, e porque muitos pais precisam continuar trabalhando e não têm com quem deixá-las, foi onde eu consegui um lugar pra morar e trabalhar ao mesmo tempo enquanto a crise não passa. 

Todos os campeonatos desse ano foram cancelados. As escolas de Jiu Jitsu ate o momento já tiveram uma baixa de 40% de alunos e estão demitindo todos que podem, pois serão meses difíceis, nosso esporte tem muito contato e o risco de contaminação é muito grande.

Hoje eu estou cuidando de uma criança durante a semana e aos fins de semana eu cuido de uma senhora. Estou feliz de, no meio dessa crise, ter um lugar pra morar e ter emprego. Sei que as coisas serão mais difíceis daqui pra frente e o propósito para o qual eu vim, foi adiado, mas tenho fé de que uma hora ou outra irei realizá-lo. A preocupação agora é se manter vivo.

Ane Infini


Equador (Ecuador)


Nicolás Gómez Herrera, Quito


🇧🇷/🇪🇨 Portunhol (Tradução para o português abaixo)

Olá Jana 🙂 obrigado por escribir! claro que posso ajudar-te . Vou a intentar a escribir no bocado do português que posso mais o resto con español. 😄

Angi e eu vinimos a Ecuador, Minho país do origem, de vacaciones. La estadía estaba planeada desde o 20 de fevereiro até o 30 de março. As primeras três semanas estuvimos na praia e nos andes de paseo. Amigos nossos da Alemanha llegaron una semana antes da quarentena. Teníamos planes de viajar con ellos por o Ecuador más ellos tuvieron que voltar a Alemanha una semana depois.

Nós ficamos na casa de minha mãe. E una casa grande en un prédio grande compartido con dois casinhas mais. Na una das casinhas moura minhos primos e la enamorada do uno de ellos.

Tenemos una situação privilegiada con muito espaço, verde, árvores y cuatro cães.

Nós estamos contentos de ficar aqui e achamos muito mais tranquilo que ficar en nosso departamento no Berlim. Estamos a ocupar nosso tempo con actividades no jardim. Por exemplo estamos a construir una pequeña horta. Também ocupamos nosso tempo para pensar en nossa tesis en conjunto. Os doing estudiamos arquitectura e vamos a fazer nossa tesis no siguiente semestre do inverno no Berlím.

A situaçao no Ecuador e muito contrastada. La cidade de Guayaquil na costa pacífica tiene o setenta porcento do infectados do país. O sistema sanitário está colapsado por las pobres medidas da municipalidade e la gente que no decidi-o escuchar as autoridades nas primeras semanas da quarentena.

Por otro lado Quito e la cidade donde estamos ficando. Aqui la situação é mais relajada e baxo control. Aqui há unos 500 infectados que para una cidade de 3 millones de persoas e un número baixo e las medidas da quarentena se han respetado mais. A municipalidade decidiu muito cedo fazer medidas drásticas e multas grandes as persoas que deciden no fazer caso.

En Quito y Ecuador e prohibido sair entre las 14h e las 5h do siguiente día.

Entre las 5 y las 14h pode sair a comprar no supermercados e farmácias solo caminando.

Solo un día na semana podes sair no automóvel dependiendo do último número da placa. Por exemplo el auto de minha mãe tiene o número 7 e nos podemos sair as quinta-feiras.

Normalmente as quintas fazemos compras grandes no supermercado e o resto do dias cosinhas mais pequenhas na tienda do barrio.

Nos supermercados há una distância de 2m entre las persoas, todos deben tener máscara e no acceso nos bañan con desinfectante.

Se nota estrés na sociedade e muita paranóia.

Acho que las consecuencias do vírus van a ser mais graves en un sentido económico no Ecuador. Há muita gente que trabalha informalmente e gana dinheiro para cada dia. Esa gente agora no pode trabalhar e dificilmente tienen ahorros.

Eu y minha família estamos a ajudar un bocado a las perssoas que conocemos que están en una situação complicada.

A semana pasada una mulher timbró a porta e estaba desesperada. Disse-me que no tenia nada e que la situação é muito complicada e pregunto-me si tenia un bocado de arroz o açúcar. Nós le dimos comida e un bocado de dinheiro. Eu acho que vamos a tener mais de estos casos no futuro.

E isso Janinha 🙂 este es mi reporte no Portunhol. 
Espero que entiendas esta lengua inventada 😂.


🇧🇷 Português

Olá, Jana 🙂 obrigado por escrever! Claro que posso te ajudar. Vou tentar escrever o tanto que puder em português, mas o resto em espanhol 😄

Angi e eu viemos de férias para o Equador, meu país de origem. A estadia estava planejada para 20 de fevereiro até 30 de março. Passamos as primeiras semanas na praia e nos Andes a passeio. Nossos amigos da Alemanha chegaram uma semana antes da quarentena. Tínhamos planos de viajar com eles pelo Equador, mas eles tiveram que voltar para Alemanha uma semana depois da chegada.

Nós estamos na casa da minha mãe. É grande, dentro em um prédio grande, compartilhado com outras duas casinhas. Em uma das casinhas mora meus primos e a namorada de um deles.

Temos uma situação privilegiada, com muito espaço verde, árvores e quatro cães.

Estamos contentes de estar aqui e achamos muito mais tranquilo do que ficar em nosso apartamento em Berlim. Estamos ocupando nosso tempo com atividades no jardim. Por exemplo, estamos construindo uma pequena horta. Também ocupamos nosso tempo pensando nossa tese juntos. Nós dois estudamos arquitetura e vamos escrever nossa tese no próximo semestre de inverno em Berlim.

A situação no Equador é muito variada. A cidade de Guayaquil, na costa do Pacífico, tem 70% dos casos de infectados do país. O sistema de saúde está em colapso devido às medidas precárias do governo local e às pessoas que resolveram não escutar às autoridades nas primeiras semanas da quarentena.

Por outro lado, em Quito, a cidade onde estamos, a situação é mais relaxada e de baixo controle. Aqui, há uns 500 infectados, o que, para uma cidade de 3 milhões de habitantes, é um número baixo e onde as medidas de quarentena foram mais respeitadas. O governo local decidiu adotar medidas  drásticas bastante cedo e aplicar multas altas às pessoas que fizessem pouco caso.

Em Quito e no Equador é proibido sair entre às 14h e 5h da manhã do dia seguinte.

Pode-se sair entre às 5h e 14h para ir ao supermercado ou à farmácia - e somente à pé.

Só se pode sair de carro uma vez na semana, dependendo do último número da placa. Por exemplo, a placa do carro da minha mãe tem o número 7, então, podemos sair às quinta-feiras.

Normalmente, às quintas fazemos compras grandes no supermercado e, no resto dos dias, pequenas pequenas na tenda do bairro.

Nos supermercados, deve-se manter distância de 2m entre as pessoas, todos devem usar máscaras e, na entrada, nos dão um “banho” de desinfetante.

Se percebe muito estresse e muita paranoia na sociedade.

Acho que as consequências do vírus serão mais drásticas em termos econômicos para o Equador. Há muita gente que trabalha informalmente e ganha dinheiro pelo que ganham em um dia. Essa gente agora não pode trabalhar e dificilmente tem economias guardadas.

Eu e minha família estamos ajudando bastante pessoas que conhecemos e que estão em uma situação complicada.

Semana passada, uma mulher bateu à nossa porta desesperada. Disse-me que não tinha nada e que a situação é muito complicada, e me perguntou se eu teria um pouco de arroz e açúcar para lhe dar. Nós lhe demos comida e dinheiro. Acho que vamos ter mais casos como esses no futuro.

É isto, Janinha 🙂 Este é meu relato em portunhol.
Espero que entenda essa língua inventada 😂.

Nico


França (Frankreich / France)


Franciele Becher, Paris


🇧🇷 Português

Minha experiência com essa pandemia começou muito cedo. Na verdade, gradualmente. Ainda em janeiro, quando a França aos poucos saía de uma longa greve geral que paralisou os transportes públicos, as notícias do novo vírus que circulava na China e chegava aos poucos na Europa, começaram a tomar conta dos noticiários e da minha timeline do Twitter. Os casos ainda eram esparsos, e ligados diretamente a pessoas que chegavam da Ásia, mas, mesmo assim, comecei a me precaver.

Para enfrentar as longas horas em trens e estações de metrô lotadas para realizar uma parte inadiável do trabalho de campo do meu Doutorado, comprei algumas máscaras e álcool em gel na farmácia. Já não era muito fácil de achar, mas fiz um estoque modesto (umas 12 máscaras), que eu não imaginava o quanto seria imprescindível nas semanas seguintes. Começamos, meu namorado e eu, a colocar em prática alguns “gestos-barreira”, como os franceses chamam: usar álcool em gel regularmente fora de casa, máscaras em locais mais lotados (ou cachecol, de forma mais regular), tentar manter distância das outras pessoas, etc.

Tudo estava mais ou menos dentro da normalidade até que, no dia 27 de fevereiro, viajei ao Brasil de férias. Fazia 2 anos que não via mais minha família, e nem sequer me passou pela cabeça que o coronavírus atrapalharia essa jornada. De toda forma, fui precavida, usei máscara durante toda a viagem – era uma das poucas –, lavei as mãos muito mais vezes do que o normal. Mas, logo depois que eu cheguei ao país, de forma muito vertiginosa, a situação começou se a escalar na Europa. Eu comecei realmente a sentir muito medo diante das notícias que chegavam, e cheguei mesmo a procurar uma Unidade Básica de Saúde porque achava que podia estar com os sintomas – era uma outra doença, mais foi mais um dos sinais, pra mim, de que algo estava mudando. Minha passagem de volta estava marcada para o dia 19 de março, mas, depois de ficar sabendo que a França estava planejando para os próximos dias um confinamento total do país, e eu comecei a ficar apreensiva – será que eu conseguiria voltar? Foi muito difícil pra mim a escolha de perder vários dias da minha viagem, momentos preciosos com meus pais, ambos no grupo de risco da COVID-19, para voltar pra França e, pior, deixa-los sozinhos durante a pandemia que eu sabia que logo chegaria com força ao Brasil. Mas em função da minha bolsa de estudos, não tive outra alternativa, retornei quase 1 semana antes do planejado.

Entrei no país poucas horas depois do fechamento das fronteiras entre a França e a Alemanha – tive muita sorte. Chegando em casa, sozinha (meu namorado estava tentando resolver a situação escolar da filha dele, na Inglaterra, que demorou muito mais pra decretar o confinamento), tive que correr aos supermercados para garantir meus mantimentos para as próximas semanas. Poucos dias depois, 17 de março, lockdown, confinement: a França se fechava, permitindo apenas saídas muito específicas de casa (para compras de mantimentos, idas à farmácia, ao médico, momentos de exercício, etc.), com a condição de que fosse preenchida uma espécie de atestado, sob o risco de pagar multas substanciais. As coisas definitivamente tinham mudado pra valer.

Porém, o “novo” cotidiano em si – ficar em casa por muitas horas, confinada – não foi particularmente uma novidade pra mim. Como doutoranda, já tinha essa rotina de ficar no meu cantinho lendo e escrevendo, saindo mais aos finais de semana para arejar a cabeça um pouco. Mas a sensação de estranhamento passou a ser cada vez mais palpável, mais real: do nada, comecei a pensar: Paris parou! Uma cidade turística desse tamanho, sempre cheia de gente, de barulho, de movimento PAROU. E a gente não sabe quando isso vai terminar. No momento em que eu escrevo esse texto, a previsão é de que a França comece gradualmente a se “desconfinar” a partir de 11 de maio. Mas eu ainda acho que essa é uma previsão bastante otimista e sei que, sem uma vacina, não há possibilidade de que as coisas voltem a ser como antes tão cedo. Mas será que elas vão voltar a ser como antes?

Tem também a questão do medo. Nos meus primeiros dias de confinamento na França, comecei a ficar com muito medo pelos meus pais, meu irmão (que é asmático e mora sozinho na Irlanda), por várias pessoas da minha família. Redobrei as ligações e as recomendações de que eles precisariam ficar em casa, e tomar muito mais cuidados. Eu me lembro de ter comentado com a minha mãe em uma das ligações: “Você pode achar que eu estou sendo exagerada, mas as coisas vão mudar muito rápido a partir de agora”. Eu acho que essa sensação de que o tempo, as situações, estão passando e se agravando rápido demais é uma das coisas que vou levar como experiência disso tudo. A impressão de que algo está escapando das nossas mãos, sabe? E o medo. Ele ainda paira sobre a minha cabeça, como se fosse uma espada, e eu sei que talvez o pior ainda esteja por vir. 

Levei alguns dias para retomar um ritmo normal de trabalho, para voltar a comer normalmente (perdi quase 5 kg entre a minha volta do Brasil e a primeira semana na França). Tive muitos sintomas, media a minha temperatura quase todos os dias, entrava em parafuso. Mas era o medo e a ansiedade operando e, ao mesmo tempo, inconscientemente, tentando me convencer de que as coisas mudaram. Mas se o ser humano tem uma capacidade exemplar é a de se adaptar às adversidades e às novas situações de uma forma ou outra. Se adaptar, por exemplo, ao fato agora já trivial de ter que lavar todas as compras ao chegar do mercado – nunca mais vou olhar um pacote de bolo da mesma forma, rsrs. Mas também às novas formas de solidariedade – por aqui, já no primeiro ou segundo dia de confinamento, às 20h, o momento dos aplausos de agradecimento aos profissionais da saúde se tornou aos poucos um compromisso marcado entre os vizinhos. Um momento raro de comunhão na nossa solidão diária, de sorrisos e acenos. E de encontros inesperados também, como o que aconteceu entre o meu namorado, o músico Márcio Faraco, e um vizinho do prédio da frente, Thomas, um violinista que descobrimos ser um professor em Engenharia. Ao tocar “Manhã de Carnaval” na nossa sacada, Márcio acabou, sem querer, fazendo acontecer um dueto emocionante que somente a arte pode ocasionar. (E que nos levou ao Fantástico, vejam só!)

Eu não sei como serão os próximos meses. Já me acostumei à rotina de confinamento, tenho saído a cada 10 dias somente para as compras básicas, e isso não tem me incomodado tanto. Mas eu vivo com o coração apertado com tudo o que acontece no Brasil, sabendo que não temos um chefe de Estado digno desse desafio (ou de qualquer outro), e que toda a minha família está correndo muitos riscos. Mas venho tentando respirar fundo, e seguir em frente, da melhor forma possível.

Ah! O meu texto vai acabar por aqui, porque já são quase 20h do dia 14 de abril (#confinementjour29), e está na hora de acenar para a senhorinha fofinha que mora do outro lado da rua =) <3

Assista aqui vídeo original de “Manhã de Carnaval” 
Leia aqui reportagem no Fantástico

Franciele Becher


Lucan Mameri, Montpellier


🇬🇧 English (Tradução para o português abaixo)

My experience with the Corona virus outbreak was epic, a mixture of relief, luck and fear. I was in Italy (Naples) for 4 months when I received the news that I could return home in France. 20 days after returning home, the virus spread across Italy. I was really lucky that I came back just in time that the borders close, otherwise I would need to postpone my thesis defense in France, I would not have my Doctor degree. 

So, I came to France, I defended my thesis on February 28thn with honour! 20 days after my defense, the general quarantine took place in France. University has closed the doors, all schools, restaurants and etc., and all ‘non-essential services’. Other doctoral theses and master's defenses were postponed, and all activity on the university was shut down. So, once again, it was just in time for me (bad that other couldn’t make it).

A point that deserved to be mentioned is that, in my office I had a Chinese friend exactly from Wuhan (the pinpoint of the virus), and... he was there 4 month before the outbreak there. I was a bit afraid, but things went well.

At this moment, as I was still finishing the scientific work of the thesis, for example the final version of my thesis or the papers for journal in my area (rock deformation), I took the opportunity to work at home calmly, easy. Keeping my brain in gears. At the same time, as I was really tired of all the work in Italy and France to prepare the thesis volume and the defense for the jury, then I at the same time I’m working from home I’m trying to rest a little. I rested a little. Watching movies, 3 or 4 per week, some series, jogging, but working during the day from my computer. I’m going out every 10, 15 days to buy food only. I know that not everyone needs or has to be productive in this difficult period, but I want to be. I take that as a challenge. So, I already submitted 2 scientific papers to be published, and I am about to finish the final version of the thesis (the one that will be available for the unit).

I was supposed to go to the USA to start a post-doc on June this year, but now, it was postponed. As soon as the France borders open, I go. I would say around September. Or just in January. That is fine. I’m okay about. I taking advantage to stay with my girlfriend at home (since we’re going to split for a while when I go to USA). I am trying to enjoy the moment with her, cook, drink a wine, discuss.

Lucan Mameri

🇧🇷 Português

Minha experiência com o surto do coronavírus foi épica, uma mistura de alívio, sorte e medo. Eu estava na Itália (Nápoles) por 4 meses quando recebi as notícias de que deveria retornar para casa, na França. Vinte dias após retornar para casa, o vírus se espalhou pela Itália. Eu tive muita sorte de voltar para casa a tempo antes do fechamento das fronteiras caso contrário teria que adiar a defesa da minha tese na França e não receberia meu título de doutorado.

Então, voltei para a França e defendi minha tese em 28 de fevereiro de 2020 com louvor! Vinte dias depois da minha defesa, a quarentena geral teve início na França. A universidade fechou as portas, assim como todas as escolas, restaurantes etc. e todos os chamados “serviços não essenciais”. As demais teses de doutorado e defesas de mestrado foram adiadas, e todas as atividades dentro da universidade foram encerradas. Então, novamente, foi bem a tempo para mim (triste que outras pessoas não conseguiram o mesmo).

Um ponto que merece ser mencionado é que no meu escritório tinha um amigo chinês, exatamente da região de Wuhan (e também o ponto central do vírus) e... ele esteve lá quatro meses antes do surto. Eu tive um pouco de medo, mas as coisas correram bem.

À esta altura, enquanto eu ainda estava terminando a pesquisa científica da tese, por exemplo, a versão final da minha tese ou os artigos para o periódico da minha área (deformação rochosa), aproveitei a oportunidade para trabalhar de casa, com calma e relaxado. Mantendo meu cérebro ativo. Ao mesmo tempo, como estava exausto de todo o trabalho na França e na Itália para preparar a tese e a defesa para a banca, enquanto trabalhava de casa, estava tentando descansar um pouco. Assistia filmes, 3 ou 4 por semana, algumas séries, saía para correr, sempre trabalhando de dia com meu computador. Saio para comprar comida apenas a cada 10, 15 dias. Sei que nem todo mundo precisa ou tem que ser produtivo nesta época difícil, mas eu quero. Tomei isso como um desafio. Então, já enviei dois artigos científicos para publicação e estou prestes a terminar a versão final da tese (a que ficará disponível para a universidade).

Eu deveria ir aos EUA para iniciar um pós-doutorado em junho deste ano, mas agora, a viagem foi adiada. Irei assim que reabrirem as fronteiras da França – acredito que por volta de setembro. Ou apenas em janeiro de 2021. E está tudo bem. Estou o.k. em relação a isso. Estou aproveitando para ficar com minha namorada em casa (já que vamos estar separados enquanto eu estiver nos EUA). Estou tentando aproveitar o momento com ela, cozinhar, beber vinho, conversar.

Lucan Mameri



Geórgia (Georgien / Georgia)


Tamar Chinchaladze 


🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Also Georgische Regierung hat entschieden keine weitere Fluge geben damit keine aus verschiedene Länder rein kommt und es gibt extra Flug von verschiedene Länder extra für unsere Leute wer in verschieden Länder geblieben, aber alle müssen 14 Tage direkt von Flughafen in Quarantäne gehen in verschiedene Städte im Hotel und natürlich diese 14 Tage ist kostenlos. Wenn jemand während dieser Zeit Symptomen hat, dann wird direkt getestet. Am Anfang war nicht so, dass alle 14 Tage im Quarantäne sein sollte, aber mansche wer von verschiedene Länder angekommen sind, normalerweise mussten zu Hause bleiben - aber weil sie nicht zuhause geblieben sind, und wer Corona hatte, hat anderen auch angesteckt. Alles wurde geschlossen außer Apotheke und Lebensmittel Geschäfte  Es darf max. zu 3. Leute zusammen sein. Alles Verkehr fahrt nicht mehr, nur Taxi und mit eigenen Auto darf man fahren. Ab 21 Uhr bis 06:00 Uhr ist voll Quarantäne Zeit: keine darf raus sonst wird strafe 3000 Lari bekommen. Bei uns, wenn jemand nur eine Symptom hat z.B. nur Husten oder nur Temperatur aber auch nicht so hoch z.b 37,2, wird sowieso getestet, weil es solche Fälle haben, von Menschen auch war mit diese Temperatur der Coronavirus hatte. In einer Stadt, eine Familie hatte diese Virus, deshalb Georgische Regierung hat entschieden ganze Stadt zu zu machen also keine darf raus und rein - da müssen alle zuhause bleiben. Bei uns versuchen weitere Kontakten finden und auch zu testen. Leider soweit wurden 3 gestorben aber jede war über 80 Jahre alt und alle hatte nebenKrankheiten.

Tamar Chinchaladze 


🇧🇷 Português

Então, o governo da Geórgia proibiu voos no país para evitar a entrada de pessoas vindas de outros países. Existem voos extras para nossos cidadãos retornarem dos países onde estavam, mas todos devem entrar em quarentena direto do aeroporto para um hotel, em diferentes cidades, por 14 dias. É claro que a estadia nos hotéis é sem custos. Aqueles que apresentarem sintomas durante este período devem se submeter ao teste (de coronavírus). No início, nem todo mundo precisava entrar em isolamento por 14 dias, mas algumas pessoas que chegaram de outros países normalmente deveriam ficar em casa. Mas uma vez que não fizeram quarentena, aqueles que estavam infectados com Corona transmitiram para outras pessoas. Todo o comércio foi fechado, exceto farmácias e mercearias. É permitido a reunião de no máximo até 3 pessoas. O transporte público está parado – só é permitido o tráfego de táxis e carros particulares. Entre 21h e 6h é confinamento total (toque de recolher) – é proibido sair de casa, caso contrário está sujeito à multa de 3000 lari. Aqui, mesmo que alguém tenha apenas um sintoma, por exemplo, tosse ou febre, ainda que esta não seja muito alta, (aprox. 37,2 °C) tem que fazer o teste de diagnóstico, pois houve casos de pessoas com esta temperatura que tiveram Corona. O governo decidiu fechar completamente uma cidade onde uma família teve o vírus: ninguém entra, ninguém sai da cidade e todos devem ficar em casa. A Geórgia está buscando novos casos e testando-os. Infelizmente, morreram 3 pessoas da doença, mas eram pessoas acima de 80 anos e tinham fatores de risco.

Tamar Chinchaladze


Indonésia (Indonesien / Indonesia)


Dewi Nuryia


🇩🇪 Deutsch

Ich bin noch in Deutschland, aber ich kann etwas über Corona in Indonesien erzählen.

Es gibt momentan über 5000 Infizierte und über 400 töte! Und es wird jeden Tag immer mehr. Am Anfang haben die Leute in Indonesien auch nicht wahrgenommen bis jetzt mit der Situation. Bei uns haben wir auch Eingangsbeschränkung, Maske zu tragen ist auch Pflicht! Die Schule und Einkaufszentrum sind seit 3 Wochen zu. 

Supermärkte nur bis 17 Uhr auf, und traditional Markt sogar nur bis 12 Uhr.

Was bei uns schlimm ist, viele Infizierte nehmen das nicht ernst, erst wenn die Symptome verschlimmert wird gehen die ins Krankenhaus , deswegen ist die Todeszahl bei uns sehr hoch.

Dewi Nuryia


🇧🇷 Português

Estou na Alemanha, mas posso explicar algumas coisas sobre o coronavírus na Indonésia.

Há no momento 5 mil casos de infectados e 400 mortes! E só vai aumentar a cada dia que passa. No começo, as pessoas na Indonésia também não levaram a situação a sério - até agora. Na Indonésia também há restrições para sair e o uso de máscara é obrigatório! As escolas e estabelecimentos comerciais estão fechados há três semanas.

Supermercados só podem ficar abertos até às 17h e as feiras tradicionais somente até às 12h.

Algo que é ruim na Indonésia é que muitas pessoas infectadas não levam a situação a sério, mas apenas quando os sintomas pioram e precisam ir ao hospital. Por isso, o número de mortos é muito alto.

Dewi Nuryia


Irlanda (Irland / Ireland)


Dayana Santiago


🇧🇷 Português

Nos últimos 2 anos, levo uma vida bem puxada, com uma carga de trabalho que muita das vezes ultrapassava 45 horas semanais. Dois empregos fixos e um freelance. Saía de manhã e voltava à noite, de segunda à sexta! Fazia esportes 2x na semana após o trabalho (natação) e quando chegava em casa tinha outras tarefas, como cuidar de filho, fazer janta, lavar roupa etc. 

Minha vida mudou pouco antes da quarentena. Mas primeiro tenho que confessar que quando o coronavírus era um “problema chinês”, não levei muito a sério. Não tinha escutado muito as notícias das últimas semanas (pois estava de férias) e não sabia praticamente nada sobre o assunto. Lembro de quando alguém me perguntou sobre o assunto quando tivemos o primeiro caso na ilha onde moro (Irlanda). “E aí, vc está com medo do coronavírus?” Respondi que a única certeza que temos é que vamos todos morrer. Coberta na minha ignorância, eu tinha zero preocupações naquele momento. Fui pra casa e fiz minha pesquisa básica, comecei escutar atentamente as notícias e passei a ficar muito preocupada de um dia pro outro.

Literalmente com o cu na mão, pois tenho um conhecimento acima do básico sobre vírus. Na universidade, estudei muita microbiologia e biotecnologia (dentre outras matérias). Muitas teorias da conspiração começaram a fazer parte do meu cotidiano. Principalmente na hora em que botava minha cabeça no travesseiro. Quando ia dormir, comecei a ter pesadelos vívidos (acho que aquelas aulas de biotecnologia estão fazendo mais mal do que bem) e preocupações gigantescas com o nosso futuro tão incerto, com meu filho, asmático e em idade escolar. Uma angústia grande também com os familiares que residem no Brasil. Principalmente por saber que o Brasil não tem estrutura alguma pra lidar com isso. O sistema de saúde publico do Brasil, é muito precário e eu conheço isso de primeira mão. E, infelizmente, a política do Brasil também é muito precária!

Tirei o meu filho da escola e fui julgada por isso. Escutei que era exagero e que não deveria ficar preocupada. Alguns dias depois, as escolas e as atividades extracurriculares fecharam e até escutei alguns “você tinha razão!” A vida do meu filho mudou dramaticamente. Pois, além da escola, ele participa de muitas outras atividades extracurriculares: aulas de salva-vidas, violino, futebol, aulas de português, capoeira etc. Uma semana se passou e a escola dele conseguiu um jeito dele fazer as aulas online via um aplicativo. Foram bem criativos e as crianças recebiam tarefas diárias. Eles então conseguem fazer o upload dos deveres e todos conseguem ver, comentar e elogiar os trabalhos uns dos outros. Muitas tarefas na área criativa e artísticas também foram enviadas. O meu filho começou a usar a máquina de costura (que há muito tempo ele não usava), criar e fazer o upload no aplicativo da sala dele. É muito legal poder ver a criatividade de todas as crianças!

Agora, estamos nas férias da Páscoa e a escola está de férias. Meu filho segue com aulas particulares online de violino e português e tarefas domésticas. Ele contribui bastante em casa e nas últimas semanas tem desenvolvido o lado culinário. Consegue fazer jantas completas e dividimos as tarefas meio a meio. Eu tenho muita sorte de ter alguém tão legal pra dividir a quarentena! Também nos exercitamos diariamente e nos divertimos jogando xadrez e assistindo filmes. Mas acho importante o contato com outras pessoas. Ligamos para amigos e família diariamente e meu filho se conecta com os amigos via Hangouts e Zoom. E isso está sendo muito bom! Assim, ele pode falar com os amigos e quebrar a dinâmica de uma quarentena a dois.

Quando o Brasil entrou em quarentena, eu ligava pra minha mãe e pra minha vó todos os dias para cobrar delas e saber se elas estavam em casa. Lembro que uma vez liguei e pequei minha vó pronta pra ir à missa. Falei tanto pra ela sobre o coronavírus que ela desistiu de ir (contei sobre os pais de uma amiga minha que estavam em coma na Alemanha). Fiquei aliviada! Desde então, eu ligo diariamente pra “controlar a vida das véias”.

Tínhamos passagens de férias para Miami e Brasil. Foi tudo cancelado. A oportunidade que tenho de ver minha família anualmente foi cancelada! Antes disso já tinha decidido que não íamos viajar mais. Mas me sinto aliviada de não ter ido, talvez ficar doente e levar mais problemas e doenças para o Brasil.

A Irlanda está em “full lockdown” (isolamento completo) com muitas restrições e multas altíssimas. Não podemos ultrapassar 2km de distância da nossa casa se não tivermos um motivo distinto e provas para isso. Também não podemos andar em grupos que residem em casas diferentes! Crianças estão proibidas de irem ao supermercado. Isso dificulta a vida de quem tem filho pequeno e é pai/mãe/responsável solo! Contanto, essas medidas têm ajudado muito e as coisas estão sob controle! Fiquei muito surpresa e muito feliz com a atitude do governo daqui! Eles estão levando muito a sério essa situação! Ao contrário da situação do atual governo do Brasil! Desde o começo dessa loucura, eu só saio pra fazer compras de alimentos para minha casa e para minha vizinha que é de idade. Fico com muita dó dela e sempre mando mensagens perguntando se ela está bem e precisa de alguma coisa. Sinto muito por todos que têm que passar essa quarentena solo!

Perder os empregos não está sendo fácil, pois além de ter responsabilidades aqui em casa, tenho responsabilidades financeiras com a minha família no Brasil. Sigo vivendo de economias e de uma ajuda do governo. O difícil, é ter que talvez abrir mão dos planos importantíssimos que dependem 100% das minhas economias. Como não tenho opção, vida que segue torrando as economias pra sobreviver! Contanto, tenho total ciência dos meus privilégios! 

Dayana Santiago


Israel


Julia Haussmann


🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)


Hallo Jana, wie geht es dir? Schön, von dir zu hören, auch wenn es schönere Umstände sein könnten. Ich lebe ja jetzt seit einigen Jahren in Israel und hier sind die Maßnahmen seit Mitte März sehr streng. Wir haben keinen Kindergarten mehr, Schulen und Universitäten sind auch geschlossen. Das gesamte öffentliche Leben steht im Prinzip seit 13.03.2020 still (also jetzt schon fast einen Monat). Wir dürfen das Haus nur 100m zum Gassigehen, zum Einkaufen und für medizinische Sachen verlassen. Und dann auch nur mit einem Mundschutz und mit Abstand von 2 m. Die Gesellschaft hier ist gespalten manche haben wirklich Panik vor dem Virus, andere versuchen ihren Weg um die Restriktionen zu finden. Ich bin mit meiner Familie ein bisschen dazwischen. Wir haben keinen physischen Kontakt mehr zu anderen Menschen, aber wir verlassen das Haus häufiger wir haben einen Hund und nutzen ihn als Entschuldigung. Die Straßen sind leer, Spielplätze geschlossen, es ist ein bisschen apokalyptisch 🙂 aber es geht uns gut und wir sind gesund. Ich wünsche dir frohe Ostern, wenn du noch etwas wissen willst, dann schreib gerne! Viele liebe Grüße nach Brasilien. 

Julia


🇧🇷 Português


Oi, Jana, tudo bem? Que bom ter notícias, ainda que pudesse ser em circunstância mais agradáveis. Moro já há alguns anos em Israel e as medidas aqui são muito rigorosas desde meados de março. Não tem mais creche, as escolas e universidades também estão fechadas. Em princípio, toda a vida pública está paralisada desde 13 de março de 2020 (isto é, há quase um mês). Só nos é permitido sair de casa a uma distância de até 100m para passear com o cachorro, ir ao supermercado e comprar remédios. Isso também somente com o uso de uma máscara no rosto e mantendo a distância de 2m (um do outro – N.A.). A sociedade aqui está divida – alguns estão realmente em pânico com o vírus, outros tentam buscar uma forma própria de contornar as restrições. Eu e minha família estamos um pouco no meio termo. Não temos mais contato físico com outras pessoas, mas saímos de casa com frequência – temos um cachorro e o usamos como desculpa para sair. As ruas estão vazias, os parquinhos fechados – está um pouco apocalíptico 🙂 mas estamos bem e com saúde. Boa Páscoa e se houver algo mais que queira saber, só me escrever. 

Julia


Itália (Italien / Italy)


Alice Speziale, Roma


🇬🇧 English (Tradução para o português abaixo)

The last three years of my life have been very intense. I lived and worked in Germany and at the same time I finished my studies in Italy remotely. I worked part time in a office and the rest of the time I studied and tried to go out as much as possible with my friends. I often went back to Italy to see my family and to review my thesis with the professor. In short 3 quite stressful years. 

I don’t consider myself a calm person. I don't like being without nothing to do and I don't like spending time with myself. When I’m alone I think too much and I tend to fall into a loop of negative thoughts. For this reason, I fill my agenda with things to do. Despite this, I am happy to have this temperament because thanks to my inexhaustible energy in these years I have lived many experiences. These experiences made me feel alive, but at the same time I suffered because I’ve never took the time for myself and to feel stable somewhere in the world. I suffer from what I have called “fear of missing out something in my life”. For this reason, I usually to accept all the opportunities that life brings to me.

Obviously, I had already planned my life after the graduation. After the end of my studies, which happened a month ago, I should have gone to Bolivia where I would have worked for a year as a volunteer in an NGO. For this reason, I quitted my job and left my flat in Germany to come back to Italy and prepare myself to go to Bolivia.  The pandemic has changed everything, not only my plans, but also my lifestyle: going from not having the time to cook to having 24 hours a day for myself, without any kind of commitment since I don't study, I don't work, I don't have children, a boyfriend or a pet!  In short: horrible. A person like me is not prepared for something like this. 

To avoid being alone I decided to stay in the same flat with my mother (mother that  I love but with whom I have a very contentious relationship) and I spent the beginning of the quarantine jumping from a hobby to another and video calling all my friends.

Over the time something has changed: Skype calls decreased, movies and series were less interesting and my hobbies started to don’t attract me anymore.
Something was happening. I was relaxing. I was spending time with myself.
After a week, due to my continuous fight with my mother which were consuming my energy, I decide to live alone. In all my life I have never had the courage of such an action, to decide, in a self-consenting way, to stay by myself.

Without realizing it, I was facing my fears of loneliness.

For a long time, I have been afraid of this invisible enemy, trying to avoid it in every way. Being alone physically is teaching me a lot. I realized that people don't know how to be alone. Because of that they don’t respect themselves doing things that they don’t like to do and staying with people who don’t make them happy. 

I realized that being alone and take time for myself is not as frightening as I thought. And I understood that I needed that: to stop and recharge my energies.

I live this period as a period of extreme calmness, where I don't need anything or anyone, where I am learning to be with myself.

I think this period will be useful for many people to deal with problems and fears that we have tried to avoid for long time.

I am curious to see how I will approach my life when this quarantine is over.

Alice Speaziale


🇧🇷 Português

Os últimos três anos da minha vida foram muito intensos. Vivi e trabalhei na Alemanha e, ao mesmo tempo, terminei meus estudos na Itália à distância. Trabalhei meio período em um escritório de arquitetura e no resto tempo estudava e tentava sair o máximo possível com meus amigos. Voltava com frequência para a Itália para visitar meus amigos e revisar minha tese com meu professor. Em suma, três anos bem estressantes.

Não me considero uma pessoa calma. Não gosto de ficar sem nada para fazer e não gosto de passar o tempo comigo mesma. Quando estou sozinha, penso demais e tenho a tendência a cair em um loop de pensamentos negativos. Por esta razão, encho minha agenda de coisas para fazer. Apesar disso, estou feliz em ter esse temperamento porque graças à minha energia inesgotável nos últimos anos vivi muitas experiências. Estas experiências me fizeram me sentir viva, mas ao mesmo tempo sofri porque nunca tirei um tempo para mim mesma e me sentir estável em alguma parte do mundo. Sofro do que chamo “medo de estar deixando passar algo na minha vida”. Por isso, costumo aceitar todas as oportunidades que a vida me traz.

Obviamente, eu já tinha planejado minha vida para depois da graduação. Ao término dos meus estudos, o que aconteceu um mês atrás, eu deveria ir à Bolívia para trabalhar por um ano como voluntária em uma ONG. Para isso, saí do meu emprego e entreguei meu apartamento na Alemanha para poder retornar à Itália e me preparar para ir à Bolívia. A pandemia mudou tudo – não apenas meus planos, mas também meu estilo de vida: indo de “não ter tempo para cozinhar” a “ter 24h do dia para mim mesma”, sem nenhum tipo de compromisso já que não estudo mais, não trabalho, não tenho filhos, namorado ou sequer bicho de estimação! Resumindo: horrível. Uma pessoa como eu não está preparada para algo assim.

Para evitar ficar sozinha, decidi ficar no mesmo apartamento que minha mãe (mãe que amo, mas com quem tenho uma relação complicada) e passei o início da quarentena pulando de um hobby para outro e fazendo vídeochamadas com meus amigos.

Com o tempo, algo mudou: as chamadas por Skype diminuíram, filmes e séries ficam menos interessantes e meus hobbys começaram a não me atrair mais.

Alguma coisa estava acontecendo. Eu estava relaxando. Estava passando mais tempo comigo mesma.
Depois de uma semana, devido às brigas constantes com minha mãe e que estavam consumindo minha energia, decidi morar sozinha. Em toda minha vida, nunca tive coragem de tal atitude para decidir, por consentimento próprio, a ficar sozinha.

Sem me dar conta, estava enfrentando meus medos de solidão.

Por um longo tempo, tive medo desse inimigo invisível, tentando evitá-lo a todo custo. Estar fisicamente sozinha tem me ensinado muito. Percebi que as pessoas não sabem ficar sozinhas. Por essa razão, elas não se dão respeito ao fazerem coisas que não querem fazer e ficando ao lado de pessoas que não as deixam felizes.

Descobri que ficar sozinha e tirar tempo para mim mesma não é tão assustador quanto eu imaginava. E entendi que precisava disso: parar e recarregar minhas energias.

Estou vivendo este período como um momento de extrema calma, no qual não preciso de nada nem ninguém e estou aprendendo a ficar comigo mesma.

Acredito que este momento será útil para muitas pessoas lidarem com seus problemas e medos, os quais tentamos evitar por bastante tempo.

Estou curiosa para saber como vou lidar com minha vida quando a quarentena acabar.

Alice Speziale


María Gabriela Arrom


🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Ich habe niemals gedacht, es so sein wurde. Ich komme aus Paraguay und meine Traum war immer in Europa zu Studieren und so bin ich nach Italien gekommen um eine Erasmus Semester zu machen. 

Ich betrachte mich als eine sehr vielseitige Person, und deshalb es ist auch gut und einfach für mich in einer neuen Situation zu adaptieren. 

Ich bin weit weg von meiner Familie aber ich wusste schon es so sein sollte und ich vermisse sie auch nicht. Ich wohne im Hause einer Freundin aber sie ist gerade nicht dabei. Ihre Eltern haben mich als Tochter “adoptiert“ und ich finde es ganz nett von ihnen. 

Manchmal ist das Zusammenleben kompliziert; ich versuche immer keine Probleme zu machen und, weil ich hier kostenlos lebe, wenn sich mich jedes Mal um einen Gefallen bitten, mache ich es ohne Frage. Es ist nur das manchmal habe ich das Gefühl das sie bitten mich zu viele Arbeit zu machen und weil ich aus einem anderen Land mit anderer Kultur komme, viele Dinge werden anders gemacht als hier. Oft fragen sie mich, ob ich niemals zuvor zu Hause in meinem Land gekocht habe. Also natürlich habe ich schon gekocht, aber in Paraguay essen wie was anders und kochen wir mit anderen Methoden. Das macht es ein bisschen schwierig aber außerdem mir geht es ganz gut. Ich lerne mit meinen Online Kursen, was ich sehr mag, und ich versuche jeden Tag ein bisschen Sport zu machen, z.B. manchmal mache ich Gymnastik zuhause, manchmal gehe ich auch raus zum Jogging oder einfach zum Spazierengehen. Um einen ruhigen Geist zu haben, kann Sport durchaus hilfreich sein. Auch so lesen, singen, schreiben. Ich liebe schreiben, da es mir zu beruhigen hilft. Als ich in ein Buch gelesen habe das “ein Kunstwerk ist gut, wenn es aus einem intimen Bedürfnis heraus geboren wurde“ – also ich betrachte das Schreiben als meine Kunst. 

Ich denke gerne, dass Quarantäne eine große Chance zum Lernen ist, unser Inneres zu erkunden um zu sehen und denken, was wir falsch machen. Zudem gibt es uns einer Gelegenheit zu lernen, die wesentlichen Dingen im Leben zu schätzen. Ich wünsche euch viel Kraft und Geduld, wir werden es überwinden.

María Gabriela Arrom



🇧🇷 Português

Nunca imaginei que seria assim. Venho do Paraguai e meu sonho sempre foi estudar na Europa, então vim para Itália para fazer um semestre do programa Erasmus.

Eu me considero uma pessoa muito versátil, pois é bom e fácil para mim me adaptar à uma nova situação.

Estou muito longe da minha família, mas já sabia que seria assim, e não sinto falta dela. Moro na casa de uma amiga, mas ela não está aqui no momento. Seus pais me “adotaram” como filha e acho isso muito legal da parte deles.

Às vezes, morar junto é complicado; sempre procuro não causar problemas, e, sempre que eles me pedem um favor, faço sem pestanejar. É que às vezes tenho a sensação que eles me dão muito trabalho para fazer e, porque venho de outro país com outra cultura, muitas coisas são feitas de maneira diferente. Com frequência, eles me perguntam se eu nunca tinha cozinhado antes na minha casa no meu país. Ora, claro que já cozinhei, mas no Paraguai comemos outras coisas e usamos outros métodos. Isto torna a situação um pouco difícil, mas apesar disso, estou muito bem. Estudo com meus cursos online, algo que gosto muito, e tento fazer esportes todos os dias, por exemplo, às vezes faço ginástica em casa, outras vezes saio para fazer jogging ou simplesmente caminhar. Praticar esporte pode ser muito útil para manter a mente calma. O mesmo vale para ler, cantar, escrever... Amo escrever, pois ajuda a me acalmar. É como o que li em um livro: “uma obra de arte é boa se nasceu de uma necessidade íntima” – então, considero o ato de escrever a minha forma de arte.

Acho que a quarentena nos oferece uma grande oportunidade de aprender, curar nosso interior, bem como ver e pensar sobre o que fazemos de errado. Também nos dá a oportunidade de aprender a apreciar as coisas essenciais da vida. Desejo a todos e todas vocês muita força e paciência – nós vamos superar tudo isso.

María Gabriela Arrom


Japão (Japan)


Anônimo


🇧🇷 Português

Desde o início da proliferação do vírus pela Ásia, o Japão não tomou medidas de contenção tão severas quanto outros países (ainda mais porque isso é contra a Constituição japonesa, devido aos fatos ocorridos na Segunda Guerra Mundial).

Então, basicamente, o que o governo japonês pode fazer é fechar escolas públicas do ensino primário até o secundário, pedir para funcionários públicos trabalharem de casa e para que todos evitem sair de casa por motivos não essenciais (sem nenhuma punição). No mais, fica a critério de cada empresa e pessoa decidirem como prosseguir.

No início, até março, não aparentou haver nenhuma preocupação por parte dos japoneses. A vida seguia normal, meios de transportes lotados, pessoas caminhando nas ruas, comércio cheio. No máximo, as escolas permaneciam fechadas e as aulas das universidades, atrasadas.

Porém, coincidentemente com o anúncio do atraso da realização das Olimpíadas, o número de casos de pessoas positivas ao vírus começou a crescer rapidamente na região central do Japão (Região metropolitana de Tokyo e Osaka). Com isso, o governo decretou o estado de emergência, mas com o mesmo efeito explicado anteriormente, no qual não há nenhuma punição.

Contudo, percebe-se já uma diferença na percepção dos japoneses para com o vírus. As pessoas passaram a acreditar na gravidade da doença e o movimento geral diminuiu nos grandes centros urbanos do Japão. Todas as aulas das universidades públicas passaram a ser online, atividades de pesquisa reduzidas (home office para quem puder), professores também estão sendo desencorajados a irem para o trabalho.

Os números não aparentam estar abaixando ainda, embora muitos já estejam respeitando o distanciamento social. Mas, mesmo que a situação se agrave mais, não há mais nada que o governo possa fazer, senão continuar pedindo que todos fiquem em casa e que higienizem regularmente as mãos etc.


Nicarágua (Nicaragua)

Martin Miranda


🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Hallo, ich bin Martin Miranda aus Nicaragua. Ich lebe derzeit in Deutschland, aber ich bin mir der Situation in meinem Land aufgrund der direkten Kommunikation mit meiner Familie, meinen Freunden und auch durch das Lesen der Medien bewusst. In Nicaragua hat die Regierung der Weltlage keine Bedeutung gegeben und sich von den Empfehlungen der WHO (Weltgesundheitsorganisation) isoliert. 

Um den Ernst der Lage in den Kontext zu stellen, möchte ich zunächst Folgendes bekannt machen. Das Land befindet sich derzeit in einer politischen Krise, die vor zwei Jahren aufgrund von Anti-Regierungsdemonstrationen begann, bei denen mehrere Menschen getötet und Tausende weitere inhaftiert wurden. 

Die Regierung hat jedoch viele "Loyalisten", die blind den Befehlen der Regierung folgen. Die derzeitige Präsidentschaft besteht aus Präsident Daniel Ortega und der Vizepräsidentin, seiner Frau, Rosario Murillo. Sie sind seit Beginn der Pandemie nicht mehr in der Öffentlichkeit gewesen und sie sind die einzige Regierung in Mittelamerika, die keine Präventivmaßnahmen zur Bekämpfung dieser Pandemie angeordnet hat. Sogar die Regierungsministerien organisieren Pro Regierungs Märsche, um so zu tun, als sei alles normal und als würde das Virus ihnen nicht schaden. In offiziellen Mitteilungen, die von den Regierungsmedien übermittelt wurden, bekräftigte Vizepräsident Murillo, dass die Regierung Nicaraguas eine ausgezeichnete Arbeit leistet und dass "Gott" Nicaragua geholfen hat.  

Einige "Loyalisten" standen dieser Situation schon früher skeptisch gegenüber, denn dank internationaler Nachrichten und sozialer Netzwerke, die über das Ausmaß der Katastrophe berichten, die die ganze Welt erlebt, ist es unmöglich, dass der Virus in Nicaragua anders wirkt und einfach so wenige Leute infiziert. Der Staat hat offiziell bekannt gegeben, dass es insgesamt nur 9 Infizierte gibt, eine völlig unlogische Zahl, da die Nachbarländer, die alle oder die meisten Empfehlungen der WHO befolgen, bereits zwischen hunderten und tausenden von Fällen melden. 

Eine große Anteil der Bevölkerung ist also tätig geworden und ignoriert die Gleichgültigkeit der Regierung gegenüber der Situation und hat beschlossen, die Sache in die eigenen Hände zu nehmen. Zum Beispiel, viele Leute schicken sie ihre Kinder nicht zur Schule oder hat mehrere Geschäfte geschlossen, sogar viele Geschäfte und Märkte, die noch geöffnet sind, verfügen über präventive Desinfektionsmittel für die Kunden und improvisierte Spülbecken, auf denen man sich die Hände waschen kann. Viele gehen auch mit Maske durch die Straßen. 

Natürlich will die Regierung keine Maßnahmen verordnen, da dies ihren Finanzen schaden würde, denn sie besitzt fast alle Unternehmen in Nicaragua. Natürlich wirkt sich die Wirtschaft auf alles aus, und besonders Nicaragua, eines der ärmsten Länder der westlichen Hemisphäre, wird wirtschaftlich am Boden zerstört sein. Aber dies geschieht auf globaler Ebene, so dass von all dem nichts Gutes für das Land erwartet wird.

Meine Familie ist zu Hause, und obwohl viele meiner Verwandten selbständig sind, leben sie von Ersparnissen oder viele helfen sich einander. Natürlich, für viele gibt es keine Wahl und müssen einen Weg finden, Geld zu machen, aber das ist nichts neues für viele. Freunde, die für private Institutionen arbeiten, sagen, dass viele aufgehört haben zu arbeiten und von zu Hause aus arbeiten oder überhaupt nicht arbeiten. Die Bevölkerung ergreift also die notwendigen Maßnahmen. In letzter Zeit haben auch Freunde oder Verwandte, die Personen kennen, die im Gesundheitssektor arbeiten, gesagt, dass in letzter Zeit mehrere Todesfälle durch Lungenentzündung gemeldet wurden. Das ist ziemlich alarmierend, denn auch wenn nicht bestätigt ist, dass es sich um COVID 19 handeln könnte, kann man sich bei der derzeitigen Situation nur das Schlimmste vorstellen.

Martin Miranda

🇧🇷 Português

Olá, me chamo Martin Miranda e venho da Nicarágua. Vivo atualmente na Alemanha, mas estou a par da situação em meu país por intermédio do contato direto com minha família e meus amigos e também da leitura dos noticiários. Na Nicarágua, o governo não deu importância à situação mundial e se absteve das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Para contextualizar a gravidade da situação, gostaria primeiro de esclarecer o seguinte: no momento, o país se encontra em meio a uma crise política que começou há dois anos após protestos antigoverno, nos quais várias pessoas foram mortas e outras milhares encarceradas.

O governo, entretanto, tem vários Loyalisten ou "forças leais" (grupos de apoiadores do governo, que são geralmente paramilitares) que seguem suas ordens cegamente. O atual cargo de presidente da Nicarágua é ocupado por Daniel Ortega e o de vice-presidente por sua esposa, Rosario Murillo. Desde o início da pandemia, nenhum dos dois foram mais vistos em público e eles são o único governo da América Central que não adotou nenhuma medida de prevenção de combate à esta pandemia. Ministérios do governo chegaram inclusive a organizar marchas pró-governo para fingir que está tudo normal e que o vírus não os prejudicará. Em comunicações oficiais, que são divulgadas pelos canais do governo, a vice-presidente Murillo informou que o governo da Nicarágua está fazendo um trabalho excepcional e que “Deus” ajudou a Nicarágua.

Alguns membros das forças leais já estavam antes um pouco céticos em relação à situação, pois, graças às notícias internacionais e redes sociais que reportam sobre a extensão do desastre vivenciada pelo mundo inteiro, é impossível que o vírus aja de maneira diferente na Nicarágua e que tão poucas pessoas estejam infectadas. Em nota oficial, o Estado informou que há no total apenas 9 pessoas infectadas, um número totalmente sem lógica uma vez que os países vizinhos, que seguem todas ou a maioria das recomendações da OMS, já registraram entre centenas e milhares de casos.

Grande parte da população começou a adotar medidas e ignorar a apatia do governo mediante a situação, decidindo agir por conta própria. Por exemplo, muitas pessoas não mandam seus filhos para a escola ou fecharam suas lojas; mesmo várias lojas ou supermercados que continuam abertos oferecem produtos de desinfecção como prevenção para seus clientes e improvisaram pias para lavar as mãos. Muitos também saem às ruas usando máscaras.

Obviamente, o governo não quer adotar nenhuma medida, pois isso prejudicaria suas finanças – e eles são donos de quase todas as empresas da Nicarágua. É claro que a economia tem um efeito sobre tudo, e a Nicarágua, em particular, um dos países mais pobres do hemisfério ocidental, será devastada economicamente. Mas o mesmo acontece a nível global, de forma que de tudo isso não se espera nada de bom para o país.

Minha família está em casa e, embora muitos parentes trabalham por conta própria, eles vivem do dinheiro que economizaram ou vários se ajudam entre si. Claro, muitos não têm escolha e precisam encontrar uma forma de ganhar dinheiro, mas isso não é novidade para muitos. Amigos, que trabalham para instituições privadas, disseram-me que não vão ao trabalho, isto é, trabalham de casa ou simplesmente pararam de trabalhar. Então, as pessoas tomam as medidas necessárias. Muitos amigos e parentes, que conhecem pessoas trabalhando no setor de saúde, também disseram que foram relatadas várias mortes por "pneumonia" nos últimos tempos. Isto é bastante alarmante, pois quando não se é confirmado que essas mortes podem ser em decorrência do COVID-19, só podemos imaginar o pior para a situação atual.

Martin Miranda

Nigeria


Azeez Abiodun


🇳🇬 English (Tradução para o português abaixo)

Hi Jana,

Thanks for according me with the honor to write about my personal experience during the corona pandemic in Germany, and its effect in my home country, Nigeria. For me, the Corona situation has dealt me a big blow because I was laid off from work in the third week of March which to an extent would land me in limbo if the lockdown and being away from work persists. Aside being away from work its effect has not been enormous nor negative to me in anyway because I am the type who keeps to myself a lot and spend most of my time in door. But I do go out for shopping and cycling, and I find these activities very exhilarating. Also, I have kept my intake morsel, and the result for this habit has been significant which means I have not added any weight like a lot of people who have been at home during the pandemic.

The Corona situation in Nigeria has not been easy even though the rate of people suffering from this virus is not much in comparison to a lot of European countries and the U.S. According to the Nigeria center for Disease Control, 782 people are suffering from Corona in Nigeria while 197 have recovered and 25 deaths have been recorded. These given statistics are as of today, April 22. I am of the opinion just like many Nigerians that a lot of people might be affected but because we have not been testing people aggressively that's why we have not recorded a lot of cases.

The first index case in Nigeria was an Italian consultant who had just left Italy for Nigeria, and some of the sufferers are Nigerians who left the shores of their countries of residence for their home country Nigeria. Two government officals have also died, but the straw that broke the camel's back was when the Nigerian chief of staff who was in Germany to negotiate with Siemens about how power could be improved in Nigeria contracted the virus while in Germany and died after 26 days in a Nigerian hospital. His death caused a lot of mixed reactions because he is termed to be the de facto president of Nigeria. He is got underlying health problems according to the Nigerian media. Prior to the Corona outbreak, a lot of funds had been budgeted for renovation of the National hospital in Abuja which is the capital of Nigeria, but these funds were not spent on the supposed project. This contributed to why a lot of Nigerians were happy about the chief of staff's death. One of the famous comments I read goes as follow, "if the government which the present chief of staff is a part and parcel of had spent a lot of money on the Nigerian health sector maybe he won't have died." For any reasonable government the corona pandemic should be the game changer.

Also, Nigeria is in the third week of a lockdown which has angered the populace because a lot of people depend on their daily income, but with the lockdown earning money daily has become impossible. Many poor Nigerians have also shunned the lockdown and trooped to the street to register their displeasure. Many are of the notion that corona affects the rich and not the common man which to me sounds funny. Hunger virus is deadlier than corona virus is an anthem a lot of Nigerians are signing lol!

Rounding this up I would love to say that the Nigerian government have not done any exceptional even though they introduced some measures to help with masses during the lockdown.

Do have a good day Jana.

Regards,

Azeez


🇧🇷 Português

Oi, Jana

Obrigado por me dar a honra de escrever sobre minha experiência pessoal durante a pandemia do coronavírus na Alemanha e seus efeitos no meu país, Nigéria. Para mim, a questão do coronavírus foi um grande golpe para mim porque fui demitido do meu trabalho na terceira semana de março, o que, até certo ponto, me jogará no limbo caso continue em confinamento e sem trabalho. Aparte de estar longe do trabalho, os efeitos da crise não foram de maneira alguma grandes ou negativos para mim, pois sou do tipo de pessoa reservada e passo a maior parte do meu tempo dentro de casa. Mas eu saio pra fazer compras e andar de bicicleta, atividades que acho muito divertidas. Além disso, já tinha atingido a quantidade de alimento diário que preciso, e, como resultado deste hábito, não tenho ganhado peso extra como muita gente que está ficando em casa durante a pandemia.

A situação do coronavírus na Nigéria não tem sido fácil, embora o índice de pessoas sofrendo desta doença não é tão alto em comparação a muitos países europeus ou aos Estados Unidos. De acordo com o Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Nigéria, registrou-se 782 pessoas com a doença no país, 197 que se recuperaram e 25 mortes. Estas estatísticas são de hoje, 22 de abril de 2020. Sou da opinião, assim como muitos nigerianos, que muitas pessoas provavelmente foram afetadas, mas, como as pessoas não estão sendo submetidas em larga escala a testes de diagnóstico, não há muitos casos registrados.

O paciente 0 de coronavírus na Nigéria foi um consultor italiano que acabara de chegar da Itália na Nigéria. Alguns dos que estão sofrendo da doença são nigerianos que deixaram os países onde estavam residindo antes de voltarem para casa na Nigéria. Dois oficiais do governo também morreram, porém, a gota d’água foi quando o chefe de gabinete nigeriano que, enquanto estava na Alemanha negociando com a Siemens para melhoria de energia na Nigéria, contraiu o vírus ainda na Alemanha e morreu 26 dias depois de dar entrada num hospital nigeriano. Sua morte despertou muitas reações mistas, pois ele estava designado para ser presidente interino da Nigéria. Segundo a imprensa nigeriana, ele tinha problemas de saúde subjacentes. Antes do surto do coronavírus, foram orçados muitos fundos para reforma do hospital nacional em Abuja, capital da Nigéria, mas esses fundos não foram destinados ao suposto projeto. Isso contribuiu para explicar porque um monte de nigerianos ficaram felizes com a morte do chefe de gabinete. Um dos comentários famosos a este respeito que li foi: “se o governo, cujo atual chefe de gabinete é parte integrante, tivesse investido bastante no setor de saúde, talvez ele não teria morrido”. Para qualquer governo razoável, a pandemia do coronavírus deveria servir como um divisor de águas.

Além do mais, a Nigéria está na terceira semana de confinamento total, algo que irritou a população, já que muitas pessoas dependem do trabalho diário para ter renda, mas, com o confinamento, ganhar dinheiro dessa forma se tornou impossível. Muitos nigerianos pobres também rejeitaram as regras de confinamento e foram às ruas para manifestar seu descontentamento. Muitos acreditam que o coronavírus afeta os homens ricos, não os comuns – o que para mim é bastante hilário. A ideia de que o vírus da fome é mais letal que o coronavírus é um hino que muitos nigerianos estão a cantar – hahaha!

Para concluir, tenho a satisfação de informar que o governo nigeriano não fez nada de excepcional, mesmo que tenham implementado algumas medidas para ajudar as massas durante o confinamento.

Tenha um bom dia, Jana.

Meus cumprimentos,

Azeez


Peru


Jonathan Lapel, Lima


🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Ja hier bei mir geht es relativ gut zum Glück! Zum Glück habe ich Arbeit und noch ein regelmäßigen Gehalt. Sehr sehr viele Leute haben ihre Arbeit verloren.

Ich erzähl dir mal welche Maßnahmen die Regierung genommen hat. Am 15 März hat die Quarentäne begonnen. Alle müssen zu hause bleiben außer, man geht Ernährungsmittel kaufen oder man muss zur Bank oder Apotheke.

Die Quarentäne ging erstmal vom 16. März bis zum 30. März, wurde aber bis zum 12 April verlängert. Und heute wurde es nochmal bis zum 26 April verlängert.

Noch dazu gibt es eine Ausgangssperre ab 18 Uhr bis 4Uhr morgens.

Das bedeutet alle Geschäfte, Bänke, Märkte, usw müssen ungefähr um 15 oder 16 Uhr schließen, damit die Arbeiter noch rechtzeitig nach hause können.

Für die Armen (Leute die Tag für Tag arbeiten müssen um das Brot des Tages kaufen zu können), hat der Stadt 380 soles pro Familie verteilt. Und dann nochmal als die Quarentäne verlängert wurde. Das reicht knapp um Ernährung für 2 Wochen zu kaufen.

Eine weitere Maßnahme war, dass Leute die momentan keine Arbeit haben, aber etwas Geld für die Pension gespart haben. (normalerweise darf man dieses Geld nicht berühren), Jetzt dürfen diese Leute (Arbeitslose), bis 2000 soles abheben.

Emm kurze Zusammenfassung :
1. Quarentäne 15/03/2020-26/04/2020
2. Nur einer pro Familie darf aus dem Haus, und nur um Ernährung zu kaufen.
3. Ausgangssperre ab 18uhr bis 4uhr, wenn man dich draußen sieht wirt man eingesperrt.
4. 380 soles für 2 wochen quarentäne für die ganz ganz armen.
5. Wenn man arbeitslos ist und geld für die Pension gespart hat, darf man bis zu 2000 soles abheben.
6. Man muss eine Maske anhaben wenn man aus den Haus geht.

Jonathan Lapel

🇧🇷 Português

Felizmente, as coisas vão relativamente bem para mim. Ainda bem, tenho um trabalho e um salário estável. Muitas, muitas pessoas ficaram desempregadas.

Vou explicar quais medidas foram adotadas pelo governo. A quarentena começou no dia 15 de março. Todos deveriam que ficar em casa, exceto quem precisa comprar alimentos, ir ao banco ou à farmácia.

A quarentena durou entre 16 e 30 de março, mas foi prorrogada até 12 e abril. Hoje () foi mais uma vez adiada até 26 de abril.

Além disso, existe um toque de recolher das 18h às 4h.

Isto significa que todas as lojas, bancos, mercados etc. devem fechar por volta das 15h ou 16h para que os funcionários consigam chegar a tempo em casa.

Para os pobres pobres (aqueles que têm que trabalhar todos os dias para comprar o pão do dia), o Estado distribuiu a quantia de 380 soles (moeda peruana que equivale a aproximadamente R$ 583 – N.A.) por família. O valor foi depositado mais uma vez quando a quarentena foi estendida. Dá apertado para comprar comida por duas semanas.

Uma outra medida foi que as pessoas sem emprego no momento, mas que tinham economizado algum dinheiro da aposentadoria (geralmente, não é possível mexer nesse dinheiro), agora podem sacar até 2000 soles.

Resumo:

  1. Quarentena de 15 de março a 26 de abril de 2020.
  2. Somente pode sair uma pessoa por família e exclusivamente para comprar alimentos.
  3. Toque de recolher das 18h às 4h. Se alguém for encontrado fora de casa neste período irá para a cadeia.
  4. Ajuda financeira de 380 soles por duas semanas para os muito pobres.
  5. Se alguém estiver desempregado, mas tiver economizado dinheiro da aposentadoria, pode sacar até 2000 soles da conta.
  6. As pessoas devem usar uma máscara ao sair de casa.
Jonathan Lapel

Polônia (Polen / Poland)


Marlon Couto Ribeiro-Szalay, Gliwice 



🇧🇷 Português

Bom, me chamo Marlon Couto Ribeiro, sou brasileiro paraense, casado, estou com 34 anos, temos um filho de 1 ano e meio e me mudei para a Polônia faz oito anos. Aqui dou aula de idiomas em uma escola de línguas da cidade de Gliwice (no sul do país, região da Silésia) e também, por vezes trabalho, de tradutor e intérprete ou consultor linguístico para o curso de idiomas online Sekrety Poliglotów (do meu colega polonês Konrad Jerzak vel Dobosz).

Apesar de já ter estado acompanhando por canais no Youtube parte do que estava ocorrendo em vários países do mundo, para mim parece que tudo aconteceu tão rápido aqui. No dia 9 março, ao chegar na escola Level de tarde, ouvi dizer que o primeiro caso do vírus chinês já tinha sido oficialmente registrado aqui na cidade, no bairro Sikornik (onde vivi no meu primeiro ano na Polônia!). Poucos dias antes, eu tinha visto de relance na capa de jornais numa banquinha aqui perto do nosso bloco informações dizendo que já tinha aparecido o chamado “paciente zero” da doença aqui na Polônia, morador de uma cidade na região fronteiriça com a Alemanha.

O engraçado é que eu estava falando com minha mulher, que é húngara, e já estava também se informando sobre a situação na Hungria por preocupação com sua família e com amigos, claro, que a gente poderia um belo dia de manhã acordar e se deparar com uma situação preocupante. Afinal, tudo acontece tão rápido. Não sei se só eu que tenho essa impressão, mas infelizmente as coisas ruins são apressadinhas demais. Gostam de nos pegar de surpresa e sucedem de forma tão célere que leva um tempo para perceber que já estamos numa outra realidade. Já o que é de bom, o que a gente tanto quer que se concretize leva tanto, tanto tempo para acontecer, que às vezes dá até uma lezera na gente. Uma vontade de deixar pra lá.

Dois dias depois, quer dizer, dia 11 de março, quarta-feira de manhã, estava eu em casa com o nosso bebê e recebo uma mensagem da minha mulher, que estava então no colégio particular onde ela ensina espanhol, dizendo que o Ministério da Educação polonês tinha suspendido oficialmente as aulas escolares presenciais por duas semanas. Na quinta-feira já me mobilizei e comprei máscaras n-95 pela internet, sendo que a babá que tinha vindo nesse dia cuidar do neném me disse que haviam rumores de dentro de quatro dias (segunda-feira, 16 de março) ficaria proibido, sob pena de multa, sair de casa e ficar andando na rua. Já me preparei na mesma da hora para sair e fui ao supermercado fazer compras para termos mantimentos por pelo menos 3 semanas. Foram as maiores compras que fiz na minha vida.

A atmosfera estava tranquila no supermercado, todos pareciam estar agindo normal à minha volta. Eu até me sentia estranho por estar com um carrinho tão cheio, tão aborrotado de produtos diante do caixa. Eu via nos olhos do povo à minha volta a dúvida e preocupação se eles também não deveriam fazer o mesmo que eu. No caixa, primeiro a moça começou a debochar um pouco da minha atitude enquanto passava os produtos no leitor. Mas do meio pro fim ela ficou pensativa, séria - talvez lhe tenha batido de repente uma tristeza ou tenha caído a ficha; virou para o lado e confessou com uma voz desanimada para sua colega no caixa ao lado: “Olha, acho que eu também deveria fazer as compras, pois tô com a dispensa e a geladeira quase vazias. É tanta gente passando por aqui hoje”. 

E olha que eu até me permiti um ato nada exemplar, nem mesmo legamente correto: levei o carrinho mesmo até o prédio onde moramos. Foram os 15 minutos mais tensos dos últimos anos. Eu ficava me lembrando da sensação estranha enquanto eu estava no supermercado de como se eu tivesse sido transportado para dentro de um filme daqueles de “fim do mundo” ou para alguma série dessas de “apocalipse” a nível mundial. Peguei e entrei no nosso bloco com muita dificuldade, subi para o nosso novo andar de elevador. Minha mulher, que já tinha voltado da escola, ao ver aquele carrinho de compras diante da nossa porta me olhou com uma cara de susto que vai ser difícil esquecer. Eu não sabia se ela estava sem palavras pelo tanto de coisa que eu tinha trazido ou se tinha ficado assustada pelo “furto temporário” do carrinho. Sim, era temporário mesmo. Isso porque eu tinha em mente devolver logo em seguida.

Mesmo com as aulas suspensas, sob o risco de ganhar multa, a escola ou o curso de idiomas que ainda naquela sexta-feira fatídica organizasse, minha chefe pediu para que eu desse normalmente a minha aula de japonês das 5 da tarde. Para ser sincero, como eu ainda tinha muita incerteza sobre o vírus por causa de tanta informação desencontrada sobre o problema, confesso que tremi nas bases e quis me opor à sua ideia. Ela meio que implorou; não entendi o porquê da atitude, mas como as máscaras que tínhamos comprado já tinham chegado, eu me senti um pouco mais confiante. De tarde, depois do almoço fiz algo que eu nunca imaginei que faria na minha vida nessa Terra de meu Deus: botei aquela máscara na cara, tirei uma foto para registrar por algum motivo que até hoje não entendi aquele momento “histó/érico”.

Ao sair na rua eu me sentia como um ET. Parece que eu era única pessoa da já tinha um estoque de máscaras. Que já tinha feito compras que durariam por quase um mês. Que já tinha ousado sair na rua munido da dita cuja. Que já tinha começado a se preparar para trabalhar à distância. Cheguei na escola e eis que de 7 alunos só uma pessoa apareceu. Eu, a aluna e a secretária éramos os únicos na escola. A secretária até comentou que tinha ficado imenso surpresa por eu ter “decidido” ir lá aquele dia dar a aula. Como assim? Se dependesse de mim estaria em casa com meu filho, minha mulher e nosso sossego doméstico. Depois da aula, a colega me disse que tinha fontes seguras, médicas e oficiais que trabalhavam nas fronteiras, dizendo que já havia tantos casos em alguns hospitais daqui da Silésia que mandavam voltar para casa.

Também diziam não podiam testar todos os que apareciam, mas alguns médicos só com base nos sintomas aprensentados por certos pacientes tinham a certeza de tinham contraído o vírus da vez, mas mesmo assim eram obrigados a mandar essas pessoas embora. A secretária também tinha ficado sabendo que as fronteiras do país e das cidades seriam fechadas a partir da segunda-feira, 16 de março. Realmente, tudo não estava acontecendo lentamente. Durante as duas semanas que se seguiram, tudo parecia tranquilo. Mas foram aparecendo mais orientações nos sites oficiais, entre elas, passeios só de duas pessoas por vez e horário específico para os idosos de 65 anos acima para fazer compras no supermercado. No dia 28 de março, então, prorrogaram infelizmente a quarentena e determinaram o fechamento de vários comércios e lojas, sendo que farmácias e supermercados começaram a funcionar de forma mais limitada.

Chegou o dia de eu fazer as compras de novo e já vi a gigantesca diferença no supermercado: fila do lado de fora, cada um mantendo uma distância de 1,5m ou 2m entre si, um monte de fita preta e amarela no chão em várias partes da loja, que até pareciam aquelas que marcam a cena do crime em séries americanas de investigação policial, indicando onde ficar de pé para esperar. Eu já não era mais o único de máscara. A minha volta eu avistava pessoas usando dos mais diversos tipos. 

Por volta do dia primeiro de abril, ouvimos pela tarde do nosso apartamento um som estranho na rua. Era uma viatura policial com um som acomplado em cima informando em polonês que deveríamos fazer o possível para ficar em casa, somente saindo em último caso, de preferência para fazer compras, ir à farmácia, a consultas médicas ou para levar o cachorro para dar uma volta. As nossas aulas on-line estavam indo até bem. A minha mulher teve a oportunidade de ajudar os meus colegas de trabalho, pois muitos deles nunca tinham ensinado pela internet e minha mulher com a experiência dela e graças a vários recursos que tinha recebido em algumas reuniões com a equipe do colégio particular dela pôde orientar esses professores. Fez tipo de um treinamento informal de duas horas com eles.

Mas muitos alunos ainda não estavam tendo aulas regularmente pela rede pública de ensino. Nesse ponto, a Hungria estava bem a frente. Lá também suspenderam as aulas no mesmo dia que aqui (11 de março), sendo que os docentes em escala nacional se mobilizaram e criaram juntos, após vários dias de trabalho em equipe intenso, um sistema, um método de ensino à distância e conseguiram graças a isso retomar de forma bem organizada e eficaz as aulas, já pela internet, no dia 16 de março. Enquanto isso aqui na Polônia as coisas estavam um pouco diferentes.

Bom, então a polícia continua passando todos os dias, umas duas vezes. O bebê no início ficava meio com medo, mas já até se acostumou. Agora desde o dia 13 de abril é obrigatório sair de casa usando a tal da bendita máscara. Dia 10 de abril era pra ter acabado o período de quarentena, mas prorrogaram para o dia 27 de abril e temos a forte conviccção de que vão prorrogar de novo. Já estão falando em antecipar o fim do ano letivo aqui (que seria no fim de junho). E a impressão que temos é que só vão deixando mais rigorosas as medidas que vão sendo implantadas. A gente queria muito visitar a família no Brasil em julho, mas do jeito que as coisas andam, parece que está longe de se tornar realidade. Já estou percebendo que meus alunos estão se sentindo mal e não têm mais muito ânimo para participar das aulas de idiomas, que são algo que fazem (ou faziam) por prazer. Eu e minha mulher achamos que agora na verdade temos que trabalhar ainda mais, já que devemos preparar uma série de materiais, fora as aulas em si, para os alunos estudarem em casa. Mas eles também nos dizem que se estão sentindo bem sobrecarregados por terem muito mais para fazer do que antes.

E para ser sinceros, ficamos preocupados com as escolas para as quais trabalhamos, já que quanto mais tempo se prolonga essa situação, mais incerto fica se os pais terão condições financeiras de pagarem pelas mensalidades. Além disso, quando começar o próximo ano letivo (em setembro-outubro) não sabemos quem voltará, ela pro colégio particular (e o medo é que ninguém volte, já que aqui escola particular é luxo, é raridade, então os pais podem acabar excepcionalemnte enviando os seus filhos para a rede pública, que não deixa a desejar, na verdade) e eu pro curso de idiomas (que só é algo adicional, que fazem por gostar). Se as restrições forem interrompidas por ocasião do verão (julho, agosto, setembro) e depois retomadas as escolas podem ser bastante afetadas. 

O que eu sei sim é que é importante ter cuidado com a fonte de informações sobre essa situação. Não se pode negar que há um exagero e há muita desinformação. Além disso, com base nos dados oficiais, as medidas tomadas são desproporcionais diante do perigo que oferece essa doença. Estão tentando “dar um tiro de canhão para matar um pássaro”. E espero que muita gente já tenha acordado e entendido que tudo isso é parte de uma agenda global, a maior prova disso são as atitudes tomas por órgãos internacionais e as soluções estão sendo propostas. Querem com tudo isso que o vermelho seja a cor de tantos povos esperramados pela Terra. Já foi feita alguma vez na história da humanidade esse tipo de quarentena em escala global? Será se realmente era necessário agir assim, quebrando empresas, distruindo economias nacionais e trazendo o desespero, a fome e o caos para as casas de tantos? O dragão está cuspindo seu fogo só para ele mesmo depois posar de herói apagando as suas próprias chamas.

Marlon Couto Ribeiro-Szalay


Portugal


Maria Paz, Lisboa 


🇧🇷 Português

Meu nome é Maria Paz, sou de Brasília e cheguei em Portugal no início de fevereiro para cursar doutorado em museologia na ULHT. Meu marido também veio para cursar mestrado em administração no Instituto Politécnico de Santarém. Eu ainda estava em Brasília organizando minha mudança, me despedindo da família e amigos, quando ouvi as primeiras notícias do COVID-19. Jamais imaginaria que dois meses depois os nossos planos estariam sustados.

Em fevereiro Lisboa seguia sua aparente normalidade, estudantes universitários de capas circulando por Campo Grande, turistas por todas as partes da cidade: Chiado, Alfama, Belém. O final do mês terminou com um carnaval aquecido pelos brasileiros no Cais do Sodré, com direito a fanfarras, banda de axé e samba. Nessa altura, o coronavírus ainda parecia algo distante e que não teria alcance em Portugal ou mesmo no Brasil.

Eu seguia minha rotina de aulas e de procura por apartamento no aquecidíssimo mercado imobiliário lisboeta: visitando 2 ou 3 casas por dia e recebendo vários nãos.

Na segunda semana de março comecei a perceber que a situação estava mudando. A pandemia já era realidade logo ao lado: Espanha e Itália com milhares de contaminados e casos aumentando no Porto. Ao tirar atraso dos podcasts que costumo ouvir me dei conta que a situação estava ali na minha frente e eu teria que me organizar para enfrentar uma possível quarentena. Logo em seguida as universidades começaram a suspender as aulas presenciais, primeiro na região do Porto e depois no resto do país.

Quando percebi que o governo ia decretar estado de emergência (perto do dia 15 de março) fui para Santarém ficar com meu marido, sustando os planos de procura por imóvel para alugar. No dia que o decreto presidencial seria aprovado recebi 3 ligações de corretores me oferecendo contrato: os impactos do COVID já assustavam o mercado imobiliário.

Em Santarém, fiquei no alojamento estudantil do IPS. Saíamos do campus apenas para ir ao mercado. 90% dos estabelecimentos estavam fechados, inclusive muitos restaurantes. A maioria das pessoas que circulavam pelas ruas pareciam sair para fazer compras, passear com cachorros ou buscar comida em um dos poucos restaurantes abertos. Uma vez que o campus tem acesso restrito, era tranquilo passear pelos jardins e tomar um pouco de sol, já que não havia mais gente. Isso aliviava um pouco a sensação de ansiedade de estar isolada num lugar distante de todo mundo que eu conheço e amo.

Como tínhamos data limite para permanecer no IPS, seguimos procurando online por uma casa em Lisboa e vimos os preços baixarem entre 100 e 200 euros, bem como aparecerem muitos apartamentos que outrora estavam em regime de alojamento local (airbnb ou outras plataformas). Conseguimos alugar um apartamento por um bom preço na Graça, perto do Panteão Nacional. Ao voltar a Lisboa foi curioso ver a cidade esvaziada, sobretudo esta região que é tão turística. Quando saímos para ir ao mercado, o Largo da Graça - que normalmente está transbordando de gente - tinha movimento, mas apenas de moradores em filas para entrar nos mercados, frutarias e talhos.

Penso que de modo geral em Portugal as pessoas levaram a sério o problema da COVID-19: tanto sociedade quanto governantes estão fazendo sua parte para conter o avanço da doença restringindo a circulação. Desde o princípio o governo buscou oferecer compensação para os que ficariam sem trabalhar, protelar pagamentos de impostos e outras medidas para que os trabalhadores não essenciais pudessem ficar em casa.

O resultado de tal abordagem pode ser visto nos números atualizados diariamente pelo ministério da saúde português: https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal/.

Há controle no espalhamento da doença e o governo já testou uma amostra considerável de pessoas (mais de 200 mil).

Ademais, vale destacar a medida tomada pelo governo português quanto aos migrantes: enquanto durar a pandemia, todos tem sua situação considerada regular para acessar ao Sistema Nacional de Saúde e/ou outros serviços do Estado.

Espero que Portugal possa servir de exemplo para outros países na lida de tão grave situação.

Maria Paz


Rússia (Russia / Russland)


Anônimo / Anonymous



🇩🇪 Deutsch (Tradução para o português abaixo)

Hey! Also die Corona Lage in Russland spitzt sich langsam zu, aber die offizielle Statistik besagt, es sei alles nicht so schlimm. Na ja, nichts neues. Dieses Verschweigen und Lügen gehören ja zur Diktaturen. Am 28.03. wurde das Quarantäne in Russland eingeführt und mittlerweile bis Mai verlängert. So wie in anderen Ländern müssen sich alle in die Selbstisolation begeben und dürfen das Haus nur wegen Einkaufen und etwas dringlichem verlassen. Hierfür benötigst du so eine Art Passierschein, welcher sich mittlerweile im Internet ausstellen lässt. Die Spaziergänge sind nicht erlaubt. Meine Schwester hat 2 Kinder und die drehen langsam durch in der Wohnung:) es gibt keine Maskenpflicht und auf den notwendigen Abstand wird nicht so strikt geachtet. Was medizinische Versorgung angeht, die ist vom Region zu Region sehr unterschiedlich. Es fehlt überall an Schutzkleidung, Tests und Masken. Manche Ärzte haben sogar Petitionen im Internet aufgerufen, mit der Bitte um Unterstützung. Das Personal darf nicht über die wahre Lage reden, um Leute nicht in die Panik zu versetzen. Laut unserer Presse befinden sich momentan viele Patienten auf IST Stationen mit der Diagnose: Pneumonie. Wegen der Corona Lage musste das für den 22.04. geplante Referendum, wobei um die Änderung der Konstitution und sprich um die endgültigen Festigung der Putins Macht geht, verschoben werden. Das Victory Day Parade am 09.Mai musste auch verschoben werden. Gehört ja auch zu unserer Propaganda. Als alle Einrichtungen geschlossen wurden, dürften die Kirchen weiter offen bleiben. Na ja, jetzt aber nicht mehr, da viele Leite sind in die Kirche gegangen. Es war ja auch Zeit vor Ostern.

🇧🇷 Português

Hey! Então, a situação do corona na Rússia está aos poucos chegando no seu pico, mas as estatísticas oficiais declaram que não está tudo tão ruim assim. Bom, nada de novo sob o sol. Tais dissimulações e mentiras fazem mesmo parte de ditaduras.

No dia 28 de março se deu início à quarentena na Rússia e foi, até o momento, prorrogada até maio. Como em vários outros países, todos devem fazer autoisolamento e somente podem sair de casa para ir às compras ou algo urgente. Para isso, você precisa de um tipo de passe, que agora pode ser obtido pela Internet. Não são permitidos passeios à pé.

Minha irmã tem duas crianças e, aos poucos, elas estão ficando loucas dentro de casa :) O uso de máscara não é obrigatório tampouco a distância mínima é rigorosamente controlada. Quanto aos cuidados médicos, isso varia bastante de região para região. Em toda parte, faltam roupas de proteção, testes e máscaras. Alguns médicos chegaram a fazer petições online na internet pedindo apoio. Os funcionários não são autorizados a falar sobre a verdadeira situação para não deixar as pessoas em pânico.

Segundo nossa imprensa, no momento há muitas pessoas na UTI com o diagnóstico: "pneumonia". Devido à situação do corona, adiou-se o referendo que estava programado para 24 de abril. Trataria da mudança da Constituição quanto à consolidação final do presidente Putin no poder. A Parada da Vitória Gay, agendada pra 9 de maio, também foi adiada. A bem saber, isto também faz parte da nossa propaganda (política).

Enquanto todos os outros estabelecimentos foram fechados, as igrejas podiam continuar funcionando. Na verdade, agora não mais, pois muitas pessoas estavam indo à igreja. Era, afinal, época da Páscoa.

Anônimo


Uganda


Janet Nkuraija


🇺🇬 English (Tradução para o português abaixo)

This started as a joke here in Uganda and it seemed like a disease which was far away from us. In fact we heard about it in news, but didn’t take it seriously, not until it reached Italy. Around this time I was preparing for our partnership visit to Germany and we went on with our plans not knowing that they will be stopped by this disease.

At the beginning of March 2020, we started the discussion whether to proceed with our journey or not. The discussions went back and forth and we agreed to proceed with our journey to Germany. But two days before our departure one of our partners called me and informed me about what would happen to us, if we continued with our journey, since he had contacted the Ugandan embassy in Germany. He had been informed that we can proceed with our journey but when we come back to Uganda we would be quarantined for Fourteen (14) days at our own cost. He asked us if we were okay with it, I consulted my colleagues and they were all okay. But on Saturday we received an email asking us to cancel our journey for our own good. That is when it dawned on me that this sickness was serious.

This was on Saturday 7th March 2020, when I received this email, from then on, I developed interest to find out more about this disease. Up till this time we had no case in Uganda. We registered our first case on the 22nd day of March 2020. As of yesterday 20th April 2020 we had 55 confirmed cases, Two (2) of which are Chinese, no deaths and 38 recoveries.

We had the first televised address of H.E The President of Uganda on the 18th March 2020. During his address he banned public gatherings, including closing of all schools, Church service, entertainment events and weddings of more than Ten (10) people for a period of One (1) Month. On 21st March 2020 he again addressed the country, where he announced that Uganda would by Monday 23rd March 2020, block all passenger flights into Uganda as well as entry of people into the Country by road and water, as part of measures to prevent the spread of the coronavirus. Exception was only given for Cargo Planes or Trucks.

Life was still normal since we were allowed to move inside the country, but when public means was banned and eventually even private cars banned apart from the ones with stickers (only essential workers like; Health workers) on the 30th March 2020 that is when it dawned on us, that the Government had taken the measures to curb the spread of COVID-19 seriously.

This directive for limited movement was for 14 days, but most of my friends including myself thought that how could we manage without going to Church, since Uganda is a very religious country. But for the sake of our safety we agreed to adhere to the rules. It was at this time that our Church thought of a way to reach us through social media. This was good because we were able to follow online the Church Service. But we missed the coming together and celebrating the feasts especially the Holy week & Easter. I remember my five (5) year old son told us not to eat till his Cousins, Aunts and Uncles had arrived, because for him a feast was for a big family. We had to tell him that they are not coming and he said; “but I have prayed that this coronavirus goes, why is it not going?” He has a lot of questions and as a result he knows so much about the disease at his tender age. He finally allowed us to have our Easter lunch, but it was like any other ordinary day. We missed the big family and the coming together and feasting as one big family.

Therefore, as a result of Covid-19, a lot changed, no more going to Church, no more family gatherings, we have to limit our movement to the market and only go if it is a must. Personally I miss the fresh bread I was able to have every day. In the community some people can barely find something to eat since most of them were living from hand to mouth. Fortunately the government came up with a program to distribute maize flour and beans to these persons. This was a great relief since most underprivileged people I know were coming to me asking for food. Many people/companies of good will have also come out to support the government by making donations. This was a great relief to me, since my worry was always that; if us who are assured of our salary even when we work from home are finding it difficult, what about those who have to work every day to put food on their table.

My greatest fear is; will life go back to normal where we hug and greet each other normally? When will schools resume? When will this pandemic end? Every night I pray to God to save us and save all my friends worldwide from this pandemic. I am looking forward to the end of this all.

To pass time and to keep healthy we have begun aerobics or physical exercises once every Two (2) days from our compound outside. Once in a week we walk to the market for about Twenty (20) kilometers to and fro, to buy some fresh foods and store in the fridge.

My other worry is the many friends who are losing their jobs as a result of this pandemic. How will this disease affect our economy? All these are my questions from which I have no answers.

At the beginning of March, 2020, I was always watching international news to get the update on this virus as a way to pass time. But I realized that it was affecting me psychologically so I limited my time of watching. But what it taught me is that many people are suffering and that the most painful is dying alone without your loved ones around you. Life will never be the same again after this all. I am touched by the nurses and doctors who work hard to ensure that all is well, putting their life at risk.

The only advantage I see that we got from this pandemic, is having time together as a family every single day, since before this we were all busy and only meeting in the night.

When the 14 days were over the President addressed us again and said that for our own safety he was extending the Lock-Down for Twenty (21) more days till the 5th day of May 2020. This now makes times tough not only because of the fears of infection but also because of poverty. Uganda’s poor person is bearing the brunt of a nationwide shutdown.

My other fear is how and when will the Lock-Down end? When will the medical cure be got? It has completely changed our day to day lives. The government imposed a curfew from 7:00pm in the evening to dawn at 6.30am in the morning. Because of the curfew, when you are out on the roadside you see people rushing not to be caught by the Police and the Local Defense Unit. This has now made our life so programed and we live in fear of this virus.

We continue to pray for the Medical Staff, for ourselves, family & friends. May the Almighty God save us from this Coronavirus.

Janet Nkuraija


🇧🇷 Português

Coronavírus começou como uma piada em Uganda e parecia uma doença distante de nós. Na verdade, ouvimos a respeito no noticiário, mas não levamos a sério – não até chegar na Itália. À época, eu estava me preparando para nossa visita da parceria que temos com a Alemanha e continuamos com nossos planos, sem saber que seriam interrompidos por esta doença.

No início de março de 2020, começamos a discussão se iríamos ou não dar prosseguimento à nossa viagem. Conversa vai, conversa vem, concordamos em prosseguir com nossa viagem para a Alemanha. Dois dias antes da nossa partida, um dos nossos parceiros, após se informar Embaixada da Uganda na Alemanha, me telefonou e comunicou o que aconteceria conosco, caso saíssemos em viagem. Ele fora informado que poderíamos viajar, mas que entraríamos em quarentena por 14 dias às próprias custas quando retornássemos à Uganda. Perguntou-me se concordávamos com isso – consultei meus colegas e todo mundo achou o.k. Porém, no sábado, recebemos um e-mail solicitando que cancelássemos nossa viagem para nosso próprio bem. Foi aí que me dei conta o quão sério era esta doença.

O interesse de descobrir mais sobre esta doença veio quando recebi o referido e-mail, no sábado de 7 de março de 2020. Até então, não tínhamos nenhum caso em Uganda. Nosso primeiro caso foi registrado em 22 de março de 2020. Até ontem, 20 de abril de 2020, tínhamos 55 casos confirmados, dois dos quais são chineses, 0 mortes e 38 que se recuperaram.

O primeiro pronunciamento televisionado do presidente de Uganda, H.E., ocorreu em 18 de março de 2020. Durante seu pronunciamento, ele baniu reuniões públicas, incluindo o fechamento de escolas, suspensão de cultos religiosos, eventos de entretenimento e casamentos com mais de 10 pessoas pelo período de um mês. Em 20 de março de 2020, ele deu mais pronunciamento ao país, no qual anunciou que Uganda, como parte das medidas de prevenção para contenção do coronavírus, a partir de 23 de março de 2002 cancelaria tanto todos os voos civis com destino ao país quanto a entrada de pessoas por terra ou água. Seria dada exceção apenas aos aviões de carga ou caminhoneiros.

A vida continuou normal já que ainda podíamos circular dentro do país, mas quando, no dia 30 de março, o trânsito dos meios de transporte público e, posteriormente, até mesmo de carros particulares foi banido – exceto daqueles que portavam adesivos (restrito a trabalhadores essenciais tais como os profissionais de saúde), ficou claro para nós que o governo tinha adotado medidas para frear seriamente a disseminação do COVID-19.

A diretriz de limite à (livre) circulação durou 14 dias, mas a maioria dos meus amigos, incluindo eu mesma, pensamos como poderíamos lidar com o fato de não poder ir à igreja, já que Uganda é um país muito religioso. Mas, por uma questão de segurança, concordamos em aderir às regras. Foi a primeira vez em que nossa igreja pensou em uma forma de chegar até nós através das redes sociais. Isso foi bom porque podíamos acompanhar as atividades religiosas via online. Mas sentíamos falta de nos encontrarmos e celebrarmos as festas, em especial a Semana Santa e a Páscoa. Lembro-me que meu filho de cinco anos nos disse que não poderíamos começar a comer antes que seus primos e primas, tios e tias chegassem, pois, para ele, tal celebração se dava com toda a família. Tivemos que lhe contar que eles não viriam, ao que ele disse: “mas eu fiz preces para esse coronavírus fosse embora, por que ele não vai?”. Ele tem um monte de perguntas e, por conseguinte, já sabe bastante sobre esta doença para sua tenra idade. Por fim, ele nos deixou ter nosso almoço de Páscoa, mas parecia como outro dia qualquer. Sentimos falta de toda a família reunida e do ato de se juntar e celebrar como uma grande família.

Por isso, com o coronavírus, muita coisa mudou – não mais idas à igreja, não mais reuniões familiares; temos que reduzir nossas idas ao mercado e apenas irmos se for estritamente necessário. Pessoalmente, sinto falta do pão fresco da padaria que costumava ter todos os dias. Na minha comunidade, algumas pessoas mal conseguem encontrar algo para comer já que a maioria delas vivem com dinheiro contado. Felizmente, o governo criou um programa para distribuir farinha de milho e feijão para essas pessoas. Isto foi um grande alívio, pois muitas pessoas desfavorecidas que conheço estavam vindo a mim pedir comida. Muitas pessoas/empresas de bem também saíram em apoio ao governo fazendo doações. Isto foi um grande alívio para mim, pois esta sempre fora minha preocupação; se nós, que temos certeza de nosso salário mesmo quando trabalhamos de casa e estamos tendo dificuldades, imagina aqueles que precisam (sair à rua para) trabalhar todos os dias para colocar comida na mesa?

Meu maior receio é: a vida voltará ao normal no sentido de que nos poderemos nos abraçar e cumprimentar normalmente? Quando esta pandemia acabará? Toda noite, peço a Deus para salvar a nós e todos meus amigos ao redor do mundo dessa pandemia. Não vejo a hora de tudo isso acabar.

Para passar o tempo e nos mantermos saudáveis, começamos a fazer aeróbica e exercícios físicos uma vez a cada dois dias na nossa área externa. Uma vez na semana caminhamos para o mercado, cerca de 20km indo e voltando, para comprar alimentos frescos e estocá-los na geladeira.

Minha outra preocupação é com os vários amigos que estão perdendo seus empregos devido à pandemia. Como essa doença afetará nossa economia? Todas essas são questões para as quais não tenho respostas.

No início de março de 2020, a fim de passar o tempo, eu sempre assistia às notícias internacionais para receber atualizações sobre este vírus. Mas percebi que isso estava me afetando psicologicamente, então limitei a quantidade de tempo que assistia. O que isso me ensinou é que muitas pessoas estão sofrendo e o mais doloroso é morrer sozinho, sem as pessoas que ama ao seu lado. A vida nunca mais será a mesma depois de tudo isso. Estou sensibilizada pelos(as) enfermeiros(as) e médicos(as) que estão trabalhando duro para garantir que fique tudo bem, colocando suas vidas em risco.

A única vantagem dessa pandemia, ao meu ver, é ter tempo junto em família todo santo dia, pois antes disso, éramos todos ocupados e só nos encontrávamos à noite.

Quando a quarentena de 14 dias chegou ao fim, o presidente fez outro pronunciamento, dizendo que, para nossa própria segurança, o confinamento seria prolongado por outros 21 dias, isto é, até 5 de maio de 2020. Isto agora torna os tempos mais difíceis não apenas por medo de se contaminar, mas também por causa da pobreza. Uma pessoa pobre em Uganda tem que arcar com o ônus de uma paralisação nacional.

Meu outro receio é de como e quanto o confinamento finalmente acabará? Quando se terá uma cura médica? Nossas vidas do dia a dia mudaram completamente. O governo impôs toque de recolher das 7 da noite às 6h30 da manhã. Por causa do toque de recolher, você pode ver pessoas correndo apressadas nas estradas para não serem pegas pela polícia e pela unidade de defesa local. Isto tornou nossas vidas muito programadas, além de vivermos com medo do vírus.

Continuamos a fazer nossas preces para os profissionais de saúde, por nós mesmos, nossas famílias e nossos amigos. Que o Deus Todo-Poderoso nos salve deste coronavírus.

Janet Nkuraija

0 comentário(s)