Coração de quem viaja sozinho


Janis Joplin teria dito: "no palco, faço amor com 25 mil pessoas; depois, vou para casa sozinha."

Acho que coração de viajante é mais ou menos assim: uma hora você está em um lugar muito bacana, quer no meio do mato da Chapada Imperial ou em um bar superbacana de Sampa, vivenciando as melhores das sensações, que é curtir a natureza ou a música e luzes pulsantes da balada, rodeado por velhos ou recém-conhecidos; no outro, você está retornando sozinho, somente com as lembranças quase vívidas daqueles com quem esteve até pouco tempo atrás. 

O ciclo é sempre o mesmo.

Só que quando o que acaba é o tempo de bonança, isto é, chega a hora de voltar pra casa, mostrando que o mundo não continua apenas intacto, mas com o caos de sempre, é impossível ignorar a pedra angular de quem está acostumado a viajar e, em especial, a viajar sozinho. O caminho de volta, volta e meia, torna-se um convite à reflexão. Hora de encostar a cabeça na janela do carro, do trem, do ônibus ou do avião e, se não estiver morto de cansado, entregar-se à degustação dos momentos vividos.

Passei muitas vezes por essa situação, em especial nos últimos tempos: quer seja na viagem de 6 horas para Berlin, onde conheci uma penca de voluntários do mundo inteiro, ou de duas horas para Frankfurt, onde encontrei um amigo cujos laços começaram no Brasil. Entre a estadia de uma cidade a outra, encontrava-me como descrito acima, sozinha, voltando para casa.

Veja, só, não estou reclamando. Não quero dizer que não aprecio este sentimento, pelo contrário, é uma das partes que mais gosto das minhas viagens. É tudo de bom estar vivendo a mil por hora o prazer de conhecer uma cidade nova, mas considero a parte que estou comigo mesma muito proveitosa também. É quando me debruço sobre mim mesma e avalio o que a experiente recente trouxe para mim, de negativo e positivo. Por exemplo, muitas dessas viagens, como você pode ver na seção Rapidinhas, duram apenas um dia, impulsionados pelo simples desejo de sair do lugar, de fugir da rotina da minha cidade, do aconchego do meu quarto, e a coragem e força para fazer isso espontaneamente me enchem de muito orgulho de mim mesma - sério mesmo. Quanta gente planeja, planeja e no fim não faz nada? Só fica curtindo - e invejando - quem resolveu se libertar do conforto e desbravar o velho mundo novo? Eu me desafiei, lancei-me e me aventurei. Embora cada vez que repito a dose parece como a primeira, com meu coração tão nervoso que ameaça explodir, ele se revela uma bússula maluca, indicando-me a direção a seguir. E o seu?

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